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Tecnologia inédita utiliza “luz” na redução de amputações

De baixo custo, técnica de fototerapia com lâmpadas de LED e fibra ótica impediu 17 amputações em 18 diabéticos graves de São Bernardo (SP)

Tecnologia, ciência e criatividade têm mudado a história de diabéticos graves em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Graças ao trabalho no Centro de Tratamento do Pé Diabético do Hospital Anchieta (HA), 17 entre 18 pacientes encaminhados com infecções severas nos membros inferiores foram poupados de amputações. São casos extremos, em que a ação medicamentosa praticamente não tem efeito e a retirada dos dedos – ou até mesmo de todo o pé – torna-se a principal opção. Porém, a equipe do HA trouxe luz – literalmente – a esses pacientes por meio de tratamento inédito de fototerapia.
Segundo dados da Federação Nacional de Associações e Entidades de Diabéticos, cerca de 50 mil diabéticos sofrem amputações anualmente. A causa central é o pé diabético, complicação decorrente, na maioria dos casos, da falta de sensibilidade nos membros inferiores. “As chances de amputações no diabético chegam a 30% quando há qualquer tipo de ferida nos pés. Em geral, a falta de sensibilidade faz com que esses pacientes demorem a procurar atendimento e pequenos cortes podem se transformar em infecções graves, que penetram no organismo até chegar ao tecido ósseo, caracterizando quadro de osteomielite. Nessa situação, a conduta mais indicada é a amputação”, detalha o cirurgião vascular e coordenador do Centro de Tratamento do Pé Diabético do Hospital Anchieta, Dr. João Paulo Tardivo.
Fototerapia pioneira: Com a criação de centro multiprofissional e especializado em São Bernardo, os pacientes passaram a ter alternativa. A partir de tecnologia desenvolvida pelo próprio Dr. Tardivo, o local oferece a chamada terapia fotodinâmica, que utiliza a luz como base para o tratamento. “Para que a luz promova o efeito terapêutico esperado, precisamos utilizar uma molécula sensível a essa luz. Escolhemos um corante feito a partir de azul de metileno e azul de toluidina, pois é um composto de baixo custo, não é tóxico e tem ação fotossensível comprovada”, explica o especialista.
A maioria dos pacientes encaminhados chega com feridas abertas nos pés, bastante infeccionadas e que não cicatrizam mesmo após meses de tratamento com antibióticos. A terapia fotodinâmica começa com introdução de um cateter pela ferida chegando até o osso comprometido. Por esse cateter é injetada a solução azulada, irrigando a região a ser tratada. Pela mesma ferida é inserido pequeno cabo de fibra ótica, cuja ponta acende e irradia luz ao pé de dentro para fora. “A molécula fotossensível azul capta a energia da luz e leva para dentro da célula doente, onde há oxigênio. Dessa mistura formam-se radicais livres que destroem a célula, combatendo a infecção”, detalha o coordenador do Centro de Tratamento do HA.
Casos graves são irradiados duas vezes por semana. Quando a infecção é controlada e a ferida começa a cicatrizar, as sessões passam a ser semanais. Após o fechamento da ferida, a região continua a ser iluminada, porém externamente com lâmpadas de LED.
Todos os equipamentos utilizados são de baixo custo e foram desenvolvidos pelo próprio coordenador do centro, que estuda a terapia fotodinâmica há cerca de 10 anos. Em 2004, o cirurgião vascular já havia comprovado os benefícios da técnica em estudo de Mestrado na Faculdade de Medicina do ABC que reuniu pacientes com câncer de pele – 80% responderam ao tratamento, sendo 60% de cura total e 20% de melhora.
Massificação no SUS: Com os esforços focados hoje no público diabético, a ideia é reunir número importante de pacientes em acompanhamento de médio e longo prazo, compilar os dados em estudo científico expressivo e massificar a terapia no Sistema Único de Saúde. Dados preliminares indicam que o custo de amputação de um dedo equivale ao tratamento fototerápico de até 10 pacientes. “Criamos o centro de tratamento no Hospital Anchieta para oferecer atendimento integral e multiprofissional ao diabético, recuperando membros afetados e reduzindo as amputações. Além disso, oferecemos suporte educacional e orientações sobre higiene, muito importantes para prevenção de novas infecções. O trabalho tem sido extremamente positivo e já são mais de 90 pacientes atendidos. Nos 18 casos graves de osteomielite que conseguimos tratar e acompanhar, obtivemos quase 100% de sucesso, preservando 17 pacientes da amputação de membros”, comemora Dr. João Paulo Tardivo.
O Centro de Tratamento do Pé Diabético está vinculado ao Grupo de Cirurgia Vascular do Hospital Anchieta e oferece atenção integral aos pacientes duas vezes por semana. São cerca de 120 atendimentos por mês, sempre às segundas-feiras pela manhã e às quintas à tarde. A equipe conta com profissionais das áreas de cirurgia vascular, endocrinologia, ortopedia, enfermagem, psicologia e podologia. Os pacientes são encaminhados pela rede pública municipal.

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