Nunca esquecerei o ano de 1992, eu tinha uns bons 30 anos. Após a frustrante eleição de Fernando Collor de Melo para presidente, eleito sob o pavoroso slogan “ caçador de marajás”, o país amargava uma dura ressaca: seu líder era acusado de uma série de falcatruas. Inclusive pelo seu próprio irmão, Pedro. Como uma espécie de surto coletivo, em um grito em conjunto de “basta !”, milhares de jovens saíram às ruas de todo país pedindo o impeachment do presidente. Foi a primeira vez, aliás, que ouvimos essa palavra estranha…
Ninguém combinou nada, tudo aconteceu muito rápido.Na avenida Paulista, os jovens convidavam os participantes do protesto a pintar o rosto. Como professor dei o exemplo, enfeitei minhas bochechas com toques de verde e amarelo. Pelo ato alguém me deu uma faixa branca escrita em azul “Fora Collor”, que amarrei na cabeça (e guardo até hoje).
A emoção tomava conta de todos.Após essa primeira passeata, vieram outras, que culminaram no glorioso dia em que o Congresso votou pelo afastamento do presidente.Assisti à votação no vão livre do Masp, ao lado de um grupo de meus alunos. Todos do meu colégio foram liberados para ver de perto esse momento histórico.
Para alguns o ponto negativo era ter que ouvir a toda hora, a cada esquina, a música tema da série Anos Rebeldes, que a TV Globo estava transmitindo. Ironicamente a mesma emissora que, anos antes, tanto se empenhara para eleger Collor. Ainda bem que a tal canção era Alegria,Alegria, de Caetano Veloso, cheia de belos versos…
Para quem não viveu os anos 60, não lutou no movimento estudantil durante o regime militar e não via o país se mobilizar por uma causa havia tempos, as passeatas dos cara pintadas foram algo mágico. Um momento para se lembrar para o resto da vida.