American Academy of Dermatology indica uso de mometasona após enxerto de pele com base em pesquisa da Faculdade de Medicina do ABC
O trabalho “Ação da mometasona tópica nos halos pigmentares de microenxertia em vitiligo” foi apresentado como mestrado pela Dra. Karine Dantas Diógenes Saldanha e ganhou notoriedade global em março último, quando foi citado no maior e mais conceituado evento dermatológico do mundo, o congresso da American Academy of Dermatology (AAD). O encontro reuniu milhares de profissionais de todo o mundo em Miami, nos Estados Unidos, para atualização em cursos, palestras, workshops e mesas de debates sobre os mais diversos temas da especialidade. E no curso sobre vitiligo, o trabalho brasileiro incorporado.
“A citação do estudo no maior evento de atualização em vitiligo do planeta nos deixa bastante orgulhosos. A utilização da mometasona pós-transplante de pele já se tornou rotina na Dermatologia da Faculdade de Medicina do ABC. A partir de agora, com a chancela da AAD, a tendência é de que a prática seja incorporada pelos mais diversos serviços dermatológicos do mundo”, acredita Dr. Carlos D´Apparecida Santos Machado Filho, professor titular de dermatologia da FMABC e colaborador da pesquisa ao lado do Dr. Francisco Macedo Paschoal.
Tradição contra o vitiligo
Em cerca de 10 anos de funcionamento, o Ambulatório de Vitiligo da disciplina de dermatologia da Faculdade de Medicina do ABC já recebeu mais de 1.000 pacientes. Atualmente são atendidos em média 50 pacientes por semana. No campo cirúrgico, ambulatório específico teve início em 2012. São pelo menos 10 procedimentos por mês entre transplantes de pele e curetagem (raspagem da pele esbranquiçada que estimula a repigmentação), entre outras técnicas de enxerto.
Estima-se que cerca de 1% da população mundial tenha vitiligo. A doença caracteriza-se pela destruição das células que determinam a cor da pele, culminando com manchas brancas de diferentes formatos em qualquer parte do corpo, sendo mais frequente em áreas que sofreram algum trauma, escoriações ou ferimentos. A causa é desconhecida, porém sabe-se que fatores emocionais, genéticos, relacionados à imunidade do individuo (fator autoimune) e a agressão pelos radicais livres predispõem o aparecimento da doença.
Entre as opções terapêuticas disponíveis constam o tratamento clínico (medicamentoso) e a fototerapia, em que o paciente é colocado em cabine especial e irradiado com luz ultravioleta A ou B, que estimulam a pigmentação da pele com vitiligo. Também existe a possibilidade cirúrgica do transplante de pele ou curetagem (técnica de raspagem da pele esbranquiçada que estimula a repigmentação), destinados a pacientes com doença estável. Lesões pequenas e localizadas podem ser tratadas com laser.
Transplante de pele
A cirurgia consiste no transplante de células saudáveis de pele para locais afetados pelo vitiligo e utiliza anestesia local. Com o passar dos dias, as células sadias invadem e colorem a região esbranquiçada. A técnica é indicada para indivíduos com a doença estabilizada, que não respondem ao tratamento clínico convencional e que tenham vitiligo em área localizada. A média de repigmentação é de aproximadamente 60% da área atingida. Porém, o transplante é complementar ao tratamento clínico e os pacientes devem continuar com a medicação convencional.
O professor titular de dermatologia da Medicina ABC, Dr. Carlos D´Apparecida Santos Machado Filho, é um dos poucos dermatologistas brasileiros com experiência em transplante de pele para pacientes com vitiligo – doença que estuda há mais de 25 anos. Considerado um dos principais especialistas na área, o docente traz no currículo mais de 500 casos de pacientes transplantados com sucesso.
Outra técnica para tratamento do vitiligo é a partir de sessões de curetagem, ou seja, com a raspagem da pele esbranquiçada. O procedimento inovador leva à repigmentação em vários casos e foi desenvolvido na própria FMABC, resultado de acompanhamento de 16 pacientes do Ambulatório de Vitiligo. O método foi descrito na dissertação de mestrado do dermatologista Dr. Jefferson Alfredo de Barros. Inscrito na revista Anais Brasileiros de Dermatologia da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o trabalho conquistou 1º lugar como “Melhor Artigo de Investigação” entre os cerca de 30 publicados em 2007.