O Centro de Tratamento do Pé Diabético do Hospital Anchieta acaba de dar início à capacitação de enfermeiros das Unidades Básicas de Saúde municipais. A iniciativa permite o estágio de profissionais das UBSs durante um dia todo de atendimento, com avaliações e tratamento de aproximadamente 30 casos. Entre os objetivos estão criar ambiente para troca de conhecimentos e padronizar o atendimento de portadores de pé diabético, levando em conta o atendimento diferenciado e pioneiro desenvolvido no Anchieta através da técnica de terapia fotodinâmica. Graças a esse trabalho foi possível poupar de amputações 85% dos pacientes tratados.
Já passaram pelo estágio profissionais das UBSs Jordanópolis, Taboão e Pauliceia. A programação prevê participação de enfermeiros de todas as 32 unidades básicas do município. “A enfermagem tem papel fundamental no atendimento ao paciente com pé diabético, principalmente na questão da assepsia das feridas e nos curativos”, ressalta o cirurgião vascular e coordenador do Centro de Tratamento do Pé Diabético, Dr. João Paulo Tardivo. De acordo com o médico, o treinamento aproximará o atendimento das UBSs ao do Hospital Anchieta, melhorando o seguimento ambulatorial. “Em geral, os pacientes tratados no Anchieta passam duas vezes por semana pelo Centro de Tratamento. Porém, quando há alguma intercorrência ou necessidade de refazer os curativos, geralmente procuram a unidade básica mais próxima de suas residências. Por essa razão decidimos treinar os enfermeiros da rede e padronizar o atendimento”, detalha.
Para a enfermeira Geisa Valencio Barbosa, da UBS Taboão, o treinamento no Hospital Anchieta foi bastante enriquecedor. A colaboradora passou a manhã do dia 1º e a tarde de 4 de julho no Centro de Pé Diabético acompanhando toda a rotina e aprendendo as técnicas utilizadas no local. “Muitas vezes participamos de reuniões e atividades extremamente teóricas e com pouca aplicação no dia a dia. Não foi o caso do treinamento no Anchieta. Vivenciamos a prática do ambulatório e o assunto central é recorrente em nossa prática, pois lidamos diariamente com curativos”, revela a enfermeira, que completa: “O trabalho de enfermagem da equipe do Centro de Pé Diabético não é muito diferente da rotina na UBS. A metodologia e alguns materiais utilizados são diferentes, mas a partir do treinamento podemos adaptar o atendimento à realidade da unidade básica”.
Tratamento pioneiro
A partir de tecnologia desenvolvida pelo próprio médico João Paulo Tardivo, o Anchieta passou a oferecer a terapia fotodinâmica, que utiliza a luz como base para o tratamento. A maioria dos pacientes chega com feridas abertas nos pés, bastante infeccionadas e que não cicatrizam mesmo após meses de tratamento com antibióticos. A fototerapia começa com introdução de um cateter pela ferida chegando até o osso comprometido. Por esse cateter é injetada solução azulada e sensível à luz, irrigando a região a ser tratada. Pela mesma ferida é inserido pequeno cabo de fibra ótica, que irradia luz ao pé de dentro para fora. “A molécula fotossensível azul capta a energia da luz e leva para dentro da bactéria, onde há oxigênio. Dessa mistura formam-se radicais livres que destroem a célula, combatendo a infecção”, explica Dr. Tardivo. Após o fechamento da ferida, a região continua a ser iluminada, porém externamente com lâmpadas de LED.
Inaugurado em março de 2011, o Centro de Tratamento do Pé Diabético funciona duas vezes por semana e está vinculado ao Grupo de Cirurgia Vascular e à Faculdade de Medicina do ABC. A equipe conta com profissionais das áreas de cirurgia vascular, endocrinologia, ortopedia, enfermagem, psicologia e podologia. Os pacientes são encaminhados pela rede pública municipal. “Também oferecemos suporte educacional e orientações sobre higiene, muito importantes para prevenção de novas infecções. Já são mais de 130 pacientes atendidos”, encerra o coordenador.