As cidades priorizaram a mobilidade, tornando o solo impermeável, alerta o Superintendente do DAEE
Ao tratar da macrodrenagem urbana, Ricardo Borsari, superintendente do Departamento de Águas e Energia Elétrica, deu destaque às perspectivas e soluções de enchentes na Região Metropolitana de São Paulo em encontro do Conselho Superior de Meio Ambiente da Fiesp.
As enchentes ocorridas de novembro a março, tradicionalmente, preocupam o paulistano. Sob o ponto de vista administrativo, as enchentes entram na lista de prioridade nesse período. Porém, “na cidade, se privilegiou a mobilidade urbana e não a permeabilidade, levando à atual situação”, avaliou Borsari, “e com a mudança climática em curso, não dá mais para estabelecer o período de chuvas”, que não é mais exato e limitado.
Ao estabelecer um histórico, o expositor tratou da visão higienista que predominava, quando se canalizavam os córregos que transbordavam com direito a uma avenida por cima e se transferia o problema rio acima ou rio abaixo. A partir de 1994, tem-se uma visão conservacionista com a primeira intervenção no Pacaembu e a construção de um piscinão. Em sua avaliação, os piscinões dão subsídio às suas bacias, são reserva de volume.
Como marcos, Borsari citou a construção do primeiro plano de macrodrenagem da bacia do Alto Tietê, em 1988. Significativa também foi, em 2002, o rebaixamento da calha do Tietê, em sua fase dois, uma obra estruturante com o estabelecimento de restrição de vazões que os afluentes podem aportar para o rio. Em 2003, a requalificação paisagística dos fundos de vale, com projetos como córrego limpo, trata-se de tentativa de recuperação dos cursos de água em sua essência, segundo informou. Para ele, a drenagem urbana sustentável requer a continuidade do controle de qualidade, mediante a preservação de água nas diversas sub-bacias, e de controle da quantidade, com piscinão e alternativas desse tipo.
Ao frisar que as cheias são intensas e de curta duração e que as águas são conduzidas de maneira cada vez mais rápida, Borsari lembrou que um piscinão enche muito rapidamente e o sistema de informação é vital.
A drenagem urbana sustentável requer a restauração de rios urbanos, ações que permitam a infiltração das águas, em contraponto à impermeabilidade do solo na cidade, para que seja feita a recarga dos aquíferos. “A unidade de gerenciamento precisa estar atrelada à bacia hidrográfica, baseada nos planos diretores que envolvem toda a cidade, desvinculada de Estado e municípios. Uma intervenção feita num local tem impactos em outras áreas”, avaliou.
Para suportar o próximo período de chuvas foram estabelecidas algumas ações: o desassoreamento dos principais cursos; mais um piscinão em Guarulhos e na avenida do Estado (capacidade de 850 mil m3); troca de 8 bombas; realocação das pessoas que se encontram em várzeas; obras na região do Juqueri; sistema de alerta eficiente; e autorização de mais 6 polders ao longo da marginal a fim de evitar transbordamento (estruturas hidráulicas artificiais para controle de enchentes).
De acordo com Borsari, o desassoreamento do rio Tietê, desse Santana do Parnaíba até Mogi das Cruzes, resultou na retirada de 7 milhões e 200 mil m3 de sedimentos do rio de 2010 até agora. Haverá necessidade de se aumentar cada vez mais a reservação em função do desenvolvimento da cidade. Como exemplo, a vazão da calha do Rio Tietê, na região do Cebolão, já aumentou em quase 70% sua vazão de enchente. Ou seja, é essencial restabelecer/incrementar a capacidade de amortecimento e infiltração das bacias, disse o superintendente do DAEE. “Restabelecer o amortecimento em canais, o rio em sua situação natural, pois ele tinha o leito principal e a várzea, que fazia o amortecimento e não deixava a água fluir à jusante. É necessário recuperar essa capacidade”, mas enfatizou que o controle do impacto hidrológico das intervenções urbanas e fiscalização é das prefeituras que regulam o uso e ocupação do solo.