Primeira linha de tratamento inclui fisioterapia e orientações para o cotidiano
Muitas pessoas têm medo de avisar aos familiares e até procurar um médico para descobrir a origem da perda involuntária de urina, porque acreditam que terão que passar por uma cirurgia para resolver o problema. Mas nem sempre é assim.
A fisioterapeuta pélvica Claudia Hacad, membro do Comitê Científico do Instituto Lado a Lado pela Vida, explica que a fisioterapia é a primeira linha de tratamento conservador. “Segundo a Sociedade Internacional de Incontinência, os exercícios do assoalho pélvico, para fortalecimento e melhora da coordenação desse assoalho, são considerados primeira linha de tratamento conservador. Isso já é bastante estabelecido. E existem associações com técnicas como biofeedback e eletroestimulação para melhorar os resultados”.
Os exercícios são feitos com contração do assoalho pélvico, para fortalecer o músculo. O biofeedback ajuda a saber a forma correta de praticar, por oferece maior consciência do assoalho pélvico. Segundo a fisioterapeuta, estudos indicam que 30% das mulheres não têm consciência do assoalho pélvico.
No biofeedback é colocado um eletrodo intravaginal ou na região do assoalho pélvico externo e ele capta a atividade do músculo do assoalho. O paciente consegue ver na tela do computador e entender como deve ser o treinamento, a contração. “Em muitos casos eu peço a contração e o paciente não entende o que é. Com o biofeedback a pessoa entende e depois consegue treinar sem o aparelho”, diz Claudia. “O paciente treina para saber que exercício terá que fazer e replicar em casa, no seu dia a dia. Quando pega o jeito, consegue fazer em qualquer lugar, em qualquer momento”.
Como é o tratamento
Quando se fala em período de tratamento e prática dos exercícios, a fisioterapeuta avisa que cada caso é avaliado individualmente. Mas para dar uma ideia, refere-se aos estudos sobre fisiologia muscular – já que o assoalho pélvico é um músculo. “Quando a pessoa busca ganhar força, trofismo das fibras musculares, necessita de treinos diários por três meses, ou seja, 12 semanas”, explica. “Mas tem pacientes que depois de quatro semanas está pronto. No assoalho pélvico não se pode pensar somente em força, mas também em coordenação. Muitas vezes a pessoa tinha a força preservada e só não estava com coordenação boa no fechamento do esfíncter. Então, em três, quatro ou cinco sessões resolve”.
Para quem vai reforçar esse músculo, a sugestão é treinos diários, três vezes por dia, pela manhã, à tarde e à noite. “Insere essa contração no seu dia a dia, em suas atividades diárias. Muitas vezes simulamos na fisioterapia as atividades do cotidiano para treinar os exercícios já nesse contexto”.
Uma dúvida que costuma surgir é sobre a possibilidade de a incontinência urinária voltar. Claudia avisa que depois de algum tempo após a parada dos exercícios pode acontecer de voltar a perda involuntária de urina. “É um treino muscular como outros. Como a pessoa que sempre faz trabalho no braço, por exemplo, e está ótimo, com força. Se parar por um período, ele fica fraco novamente e precisa retomar o treino”.
Com o músculo do assoalho pélvico é a mesma coisa – depois que a pessoa aprende, se ocorrer qualquer perda de urina é só voltar a praticar os exercícios. “Geralmente quando o paciente melhorar, não lembra mais do treino. Então, se perder uma vez, volta a fazer as contrações”.
A fisioterapia pélvica costuma oferecer bons resultados para incontinência leve ou moderada. Nos casos mais severos, o tratamento começa com a fisioterapia com avaliação dos resultados. A fisioterapeuta esclarece que se a pessoa fez o treino da maneira correta, tem boa adesão e mesmo assim continua com perda, volta para o urologista, ginecologista ou geriatra, o médico que acompanha o tratamento, para avaliar novas condutas e estratégias de tratamento.
“Se tem bexiga hiperativa, frequência com urgência, existem medicamentos para inibir contrações involuntárias da bexiga. Em caso de incontinência de esforço, tem cirurgia minimamente invasiva, que é a colocação de sling, com pouquíssimo tempo de internação e mínimo risco”, afirma. “Na falha do tratamento conservador, que é a fisioterapia, tem o uso de medicamentos e a cirurgia”.
É considerada leve a incontinência em que o paciente perde algumas gotas. Moderada quando há perda de jatos algumas vezes e severa quando está perdendo urina direto, usando muitas fraldas.
Orientações de estilo de vida
Algumas ações simples podem ser inseridas na rotina e ajudar a diminuir a incontinência urinária – além de tornar melhor a qualidade de vida de quem enfrenta o problema. “Eu falo que 50% do tratamento são essas orientações”, destaca Claudia.
Um dos pontos a observar é a forma como toma água. “Às vezes porque o médico mandou tomar três litros por dia, o paciente toma 750 ml só na hora do almoço”, avalia. “Não precisa jogar toda essa carga de líquido na bexiga de uma vez só. O ideal é ingerir líquido ao longo do dia, de pouco em pouco”.
Outra dica da fisioterapeuta é evitar ingestão de líquidos duras horas antes de dormir. Se precisa tomar remédio, ingere o suficiente para o medicamento apenas – não precisa mais do que isso. “Não há necessidade de tomar água a noite para dormir, porque não gasta energia. Vai ficar só retendo, acordar durante a noite e ter qualidade de sono ruim”.
Claudia também recomenda esvaziar a bexiga a cada duas horas. “Tem pessoas que dizem: ‘antigamente eu conseguia ficar 4, 5 horas segurando a urina’. Como se isso fosse uma vantagem – não há vantagem nenhuma”.
Para criar essa rotina, a sugestão é colocar o relógio para despertar a cada duas horas, uma hora e meia, ou começar a prestar mais atenção às necessidades da bexiga. “Quando for urinar é preciso ver se esvaziou adequadamente. Se esvazia a bexiga, levanta e volta depois de 15 minutos, pode ser porque não fez corretamente antes. Fica mais um tempo, movimenta um pouco o corpo, espera esvaziar”.
A fisioterapeuta pélvica avisa que só essas orientações comportamentais de ingesta hídrica, evitar ingestão noturna de líquidos e esvaziar adequadamente a bexiga já traz muitas melhoras. “50% do tratamento está aí”.
Campanha Xi Escapou
A incontinência urinária (IU) atinge cerca de 10 milhões de brasileiros. Entre as mulheres, 35% enfrentam o problema após a menopausa. Entre os homens submetidos à cirurgia para a retirada da próstata, de 5% a 10% podem apresentar a doença. Para conscientizar sobre esse cenário, o Instituto Lado a Lado pela Vida, com o apoio da Bigfral, lançou em 2015 o programa Xi Escapou. O objetivo é acabar com medos e preconceitos e também capacitar profissionais para que saibam lidar com o distúrbio.
Para saber mais, pode baixar gratuitamente a cartilha Diálogos da Incontinência Urinária no site do Instituto: www.ladoaladopelavida.org.br/portal/nossas-publicacoes