Mudanças exigem novas posturas. Somente atitudes transformadoras é que mudam nosso futuro. Atitude individual renovada é desafio e – refletindo melhoria – pode influenciar o coletivo, claro. Tomo o exemplo do que me aconteceu quando – nos tempos idos dos cursos de ingresso ao ginásio – fiquei sabendo de uma nova caneta de escrever. Seria uma mudança e fiquei curioso.
Até então, só conhecia e usava a caneta de pena molhada na tinta, o que exigia um tinteiro de vidro portátil ou afixado na carteira do aluno, lá na escola. Eram dois os tipos de penas disponíveis. A mosquitinho, de traço fino, e a chamada bico de pato, de traço delicado e com espessura variável de acordo com a pressão da caneta sobre o papel. Além dessas, somente as apreciadas e diferenciadas canetas-tinteiros, importadas, caras e chics, cujas marcas mais cobiçadas na época eram as Schaeffer e Parker.
Minha curiosidade infantil foi exacerbada quando me contaram que a dita caneta usava tinta seca. Aí não me aguentei. Como poderia ser aquilo? Tinta seca? Convenci o pai a me dar umas moedas e fui à Papelaria Coquinho, em Leme-SP. Voltei orgulhoso para casa com uma esferográfica – era essa a tal novidade – no bolso da calça curta. Fiquei entusiasmado.
Naquele dia, inaugurei nova etapa nos cadernos de lições que o professor passava para a classe dos pretendentes ao concurso que se aproximava. De fato, era muito mais simples a nova escrita. Não precisava de tinta nem do mata-borrão. Era azul e saía pela ponta da caneta munida com minúscula esfera que deslizava pelo papel. Uma beleza.
Somente no dia seguinte fui perceber algo estranho no caderno. Não conseguia ler nada do escrito na véspera. A tinta transpassara o papel fino do caderno e borrou todas as folhas seguintes, impossibilitando qualquer leitura. Foi uma decepção.
Depois, entendi que as folhas do caderno é que eram muito ruins, sem textura, sem qualidade. E, para encerrar, quase apanhei quando a mãe veio me mostrar a mancha de tinta que ficara no bolso, por contato com a tal caneta nova e diferente. Fiquei esperto.
Hoje, humm… Tomara que o Brasil – diante do desafio a tantas necessárias transformações – não se borre todo e não fique de calças curtas!
Francisco Habermann
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