A tendinite calcária é uma forma grave e agressiva de tendinite, caracterizada por depósitos de hidroxiapatita (um fosfato de cálcio cristalino) em qualquer tendão do corpo. Mas, geralmente, afeta os tendões do manguito rotador (ombro) e tornozelo (Aquiles) causando dor e inflamação intensas a ponto de ter que ir ao pronto socorro mais próximo por ser incapacitante! A condição está relacionada com impotência funcional e pode causar capsulite adesiva (congelamento), o que impede de mobilizar a articulação afetada.
Sinais e sintomas
As principais queixas são a rigidez, encolhimento, endurecimento ou fraqueza da articulação acometida. A dor, de forma geral, é agravada pela elevação do braço acima do nível do ombro ou por deitar sobre a articulação. A dor pode despertar o atleta do sono, ou até mesmo nem deixá-lo dormir.
Causas
Três principais teorias surgiram na tentativa de explicar os mecanismos envolvidos na calcificação do tendão.
A primeira teoria é a da calcificação reativa (pós-trauma ou esforço) e envolve um processo de medição celular ativa, geralmente seguido de reabsorção espontânea por fagocitose de células multinucleadas que apresentam um fenótipo osteoclástico típico.
A segunda teoria sugere que os depósitos de cálcio são formados por um processo que se assemelha a ossificação endocondral (lentamente devido ao uso repetitivo). O mecanismo envolve hipoxia (falta de oxigênio) regional, que transforma tenócitos em condrócitos.
A terceira teoria envolve a formação de osso ectópico a partir de metaplasia (transformação) de células estaminais mesenquimais normalmente presentes no tecido do tendão em células osteogênicas (formadoras de osso). Como nenhuma teoria única é satisfatória para explicar todos os casos, atualmente, a tendinopatia calcária é considerada multifatorial.
Só para terem ideia nunca tive dor alguma no meu tendão antes de ter a tendinite calcária, foi súbita e aguda após uma competição de natação. Talvez o esforço desencadeou? Ou realmente a teoria que é um pouco de cada fator?
Diagnóstico
Os depósitos de cálcio são visíveis no raios-x como grumos discretos ou áreas turvas. Os depósitos são visíveis se eles estão no processo de reabsorção, e isso também é quando eles causam mais dor. Os depósitos são cristalinos quando em sua fase de repouso e como pasta de dentes na fase de reabsorção. No entanto, existe uma correlação fraca entre a aparência de um depósito calcifico nos raios-x simples e sua consistência real. O ultrassom também é útil para descrever os depósitos cálcicos e correlaciona-se estreitamente com o estágio da doença. A ressonância magnética também ajuda nos diagnósticos mais difíceis e diferenciais como a tendinite ou tendinopatia simples e bursite, por exemplo.
Tratamento
Normalmente melhora em média em três semanas sem tratamento específico, apenas o repouso, mas lidar com a dor é o mais difícil! Os tratamentos da tendinite calcária podem incluir:
Fisioterapia: eletroanalgesia, ultrassom, laser crioterapia e o calor (você vai ter que decidir qual te alivia mais) pois oferecem alívio sintomático e apresentaram resolução de depósitos e melhora clínica. Fisiomotora visando melhorar a biomecânica do ombro reduzirá a tensão nos músculos, permitindo uma diminuição dos sintomas. É pensado que a biomecânica melhorada reduz a quantidade de calcificação que ocorre especialmente no caso do supra-espinhal, onde pode ser causada pela compressão repetitiva contra o acrômio. A ideia é mobilizar conforme tolerado.
Antiinflamatórios ou injeções de esteroides locais ou sistêmicas. As injeções de corticosteróides podem ser úteis quando o ombro está fortemente inflamado, para alívio temporário da dor.
Um dos métodos mais modernos é a terapia de onda de choque extracorpórea de alta energia (que usa ondas sonoras) pode ser útil pois ajuda a quebrar a calcificação e inflamação e estimula de quebra a reabsorção da calcificação.
Se mesmo assim a calcificação não absorver e/ou estiver na articulação ou na bursa, a cirurgia pode ser considerada. A remoção do depósito calcário com cirurgia aberta ou cirurgia artroscópica são operações difíceis, mas com altas taxas de sucesso (cerca de 90%). Cerca de 10% exigem a reoperação. Se o depósito for grande, então o paciente exigirá um reparo do tendão para consertar o defeito deixado quando o depósito for removido ou para tentar não deixar voltar a formar a calcificação no tendão
Outros. Sob anestesia local, os depósitos cálcicos podem ser mecanicamente quebrados, perfurando-os repetidamente com uma agulha e depois aspirando o material calcifico com a ajuda de uma válvula de solução salina. O ultrassom pode ser usado para ajudar a localizar o depósito e para visualizar a agulha que entra no depósito em tempo real. A evidência disponível não sugere um benefício em relação aos tratamentos usuais, mas foi o que resolveu para mim!
Ana Paula Simões é Professora Instrutora da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Mestre em Medicina, Ortopedia e Traumatologia e Especialista em Medicina e Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. É Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé, da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte; e da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. www.anapaulasimoes.com.br