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“UM LEGADO”

Após uma história de 102 anos, a Ford anuncia que encerrará a produção no Brasil, passaremos a importar os carros da Argentina e Uruguai e cerca de 12 mil trabalhadores diretos e indiretos serão impactados.

Diante dessa notícia fica a memória de uma das empresas que mais contribuiu para o desenvolvimento do nosso país e principalmente para a região do ABC. A Ford foi fundamental para a vida de milhares de brasileiros, são funcionários, fornecedores, prestadores de serviços, enfim toda uma cadeia produtiva que se desenvolveu ao longo desses anos em torno dessa grande companhia.

Precisamos ter claro que disputas políticas, discursos populistas, “mitar nas redes” ou as fatídicas canceladas não produzem, não geram empregos nem renda, não fazem de forma alguma o país se desenvolver. Os sinais são claros, nossa economia não cresce há anos, não oferecemos um mínimo de previsibilidade às empresas. Por aqui empreender é difícil, ocupamos o vexatório 124º lugar no ranking de países que avalia o ambiente de negócios*. É caro, em 2020 precisamos trabalhar 151 dias (5 meses), só para pagar tributos*. Quando avaliamos o acesso a capital, o Brasil se coloca em 104º no ranking. Atualmente no Brasil são necessários 4 anos em média para recuperar o crédito concedido, enquanto no Chile esse processo leva 2 anos e no Japão 6 meses.

Quando eu vi de relance a matéria que os trabalhadores se manifestavam contra o fechamento das fábricas da Ford no país, logo imaginei que eles estariam fazendo uma peregrinação à Brasília, reivindicando para os políticos melhores condições de negócios para nossos empreendedores mas para a minha surpresa não, estavam na frente da fábrica protestando contra seu próprio fechamento. Essa eu não entendi, deve ser a lógica dos sindicatos.

Fato é que quando ouço alguém dizer que precisamos mudar nossa vocação econômica em São Caetano, o que sugere dar as costas para empresas que historicamente dão sustentação em arrecadação, geração de empregos e renda me dá até calafrios. Não somos nós que determinaremos qual será nossa vocação, não cabe a uma pessoa, ou ao estado determinar tal caminho, o mercado é quem determina seu rumo, ou em alguns casos a falta de rumo como estamos observando. Não podemos desconfiar da importância histórica que a GM e outras empresas têm para a cidade, o papel fundamental que estas empresas tiveram para a construção de uma cidade próspera e com bons índices. Preservar essa relação por um longo período é nossa obrigação, melhorar o ambiente de negócios. Criar um ecossistema positivo e sustentável deve ser prioridade para que faça cada vez mais sentido a permanência dessas empresas e isso também deve ser um compromisso para um futuro mais promissor. Esse trabalho precisa ser constante e de longo prazo, para que nossa única alternativa não seja apenas negociar subsídios.

Em tempos de “negacionismos”, até quando vamos negar o fato de que não dá mais para viver nesse ambiente de negócios em nosso país? Quando vamos parar para discutir uma reforma tributária que faça realmente sentido? Quando vamos tirar dos ombros dos empreendedores o peso de um estado inchado? Quando teremos menos “mitadas” e mais trabalho efetivo?

Esta semana foi a Ford, amanhã poderá ser outra grande empresa e eu continuo ouvindo apenas as “mitadas” e “canceladas”. Já as mudanças…esperar por elas não é a melhor alternativa. Arregaçar as mangas e botar pra fazer é a nossa única alternativa. Que tal?

Fonte: *Endeavor (Relatório Doing Business), **Associação Comercial de São Paulo
Alan de Camargo – Sócio-Diretor da Consultoria de Marketing Prado & Camargo, Sócio-Diretor Administrativo do Studio Giselle, Sócio da Dance Ticket, Líder do Movimento Livres, Líder RenovaBR, Líder da Rede Global de Empreendedorismo de São Caetano, membro do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico de São Caetano do Sul e membro do CID (UNESCO). Entusiasta do tema Empreendedorismo e Econômica Criativa como alternativa para Inovação no Desenvolvimento Econômico e Social das cidades, atuando em diversos projetos nesta área há mais de 10 anos.

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