A construção da história e do desenvolvimento do futebol da cidade de Mauá passou, necessariamente, pela formação dos clubes amadores e varzeanos e das primeiras equipes, muitas das quais atreladas às atividades produtivas locais como a extração de pedras, das empresas de cerâmica e porcelana, das olarias e dos demais empreendimentos econômicos cujos trabalhadores praticavam o ludopédio como lazer e recreação acessíveis à sua condição social.
Assim descrita resumidamente sobre as origens amadoras e populares da prática do futebol na então “Capital da Porcelana”, também esses elementos fizeram parte quando do surgimento, em 15 de dezembro de 1981 do primeiro clube de futebol profissional do município de Mauá, o Grêmio Esportivo Mauaense. Profissional, mas com toda sua estrutura inicial sustentada por atletas e dirigentes oriundos da várzea, dos terrões do amadorismo local.
Exemplo dessa afirmação é que praticamente todo elenco da primeira formação do Grêmio Mauaense era oriunda da seleção amadora municipal (CME) e dos times de várzea da cidade, onde atletas como Benedito Carlos de Oliveira, o popular Benê, vivam uma condição de semiprofissionalismo porque conciliavam os treinos e jogos com o trabalho; trabalhavam durante o dia e treinavam à noite.
A breve carreira do mineiro mauaense Benê
Nascido na cidade mineira de Botelhos em 18 de setembro de 1961, Benê chegou com sua família em Mauá no ano de 1973, mais precisamente no Parque São Vicente, bairro onde ainda hoje reside. Com doze anos, ainda era um garoto que sonhava em ser um grande craque do futebol, iniciando pouco tempo depois sua tentativa em ser jogador de futebol profissional.
Começou na base do Nacional da Água Branca (1976), passando depois pelas categorias menores do EC Santo André, onde ficou de 1979 a 1981. Em 1982 profissionalizou-se no Grêmio Mauaense, quando fez parte das primeiras formações da “locomotiva”. No ano seguinte jogou pelo Rio Branco de Ibitinga, voltando ao Grêmio Mauaense em 1984. No Grêmio, Benê faria parte do elenco campeão paulista da Série A3 de 1985. Atuou também nos times amadores União e Paulistinha, ambas equipes do Parque São Vicente.
O grande volante das primeiras formações do Grêmio Benedito Carlos de Oliveira tinha como referência ninguém mais que Paulo Roberto Falcão, o camisa 5 absoluto do Internacional de Porto Alegre. Dentre seus jogos inesquecíveis, a épica partida de inauguração do Estádio Municipal de Mauá contra o São Paulo FC (1984); o outro foi a final do campeonato paulista de juniores entre EC Santo André e Nacional AC, preliminar da decisão da Segunda Divisão entre Santo André e XV de Piracicaba, no Parque Antártica. Os juniores foram derrotados, enquanto que os profissionais garantiram o primeiro acesso do “Ramalhão” à elite do futebol paulista, em 1981.
Uma família de craques e um craque família
O volante clássico Benedito Carlos de Oliveira é irmão de outro grande craque do futebol mauaense, o imortal atacante Leivinha do União e do Grêmio Esportivo Mauaense, do qual foi autor do primeiro gol marcado pelo recém criado clube. Coincidência ou não, Benê tem dez irmãos, onze com ele. Como num time, Benê é o dez entre os 11, sendo o caçula entre os irmãos homens.
Benedito Carlos encerrou precocemente sua carreira de atleta no final de 1985 em razão de um problema cardíaco, levando-o a uma cirurgia no ano seguinte. Plenamente recuperado, ainda hoje Benê joga suas partidas aos sábados nas equipes veteranas do seu querido CE União. Casado com a dona Vânia Cristina Gonçalves, Benê é pai da Natália e da Carolina. Aposentado desde 2017, após o futebol seguiu carreira na vida privada, quando trabalhou na área administrativa de uma grande multinacional do ramo químico, fruto de sua formação enquanto Administrador de empresas.