Nos acalorados debates acerca da primazia do futebol brasileiro, sobre em qual cidade o esporte das multidões teria aportado inicialmente no país, suas circunstâncias, times, atores e autores, a região do ABC paulista sempre terá assento nessa discussão. Mesmo a tese mais difundida na qual o ferroviário Charles Miller teria sido o “pai do futebol brasileiro”, diversos historiadores e pesquisadores apresentam novas fontes e distintas explicações para a introdução do esporte no Brasil, o que, entretanto, não vamos fazê-lo. Ficamos com a versão que envolve Miller.
Charles Miller foi trabalhar na ferrovia assim que voltou da Inglaterra; era funcionário da São Paulo Railway, empresa que controlava a ferrovia Santos-Jundiaí. Documentos da época atestam que foi na vila inglesa de Paranapiacaba, então Alto da Serra, hoje Santo André, onde o futebol teve destinado oficialmente o primeiro espaço para sua prática, cujo campo aparece em mapas datados de 1895. Esse fato insere o ABC paulista, que reivindica com isso sua posição no debate.
O centenário campo ainda resiste em Paranapiacaba e tem se tornado ao longo de mais de cem anos de história, palco e celeiro de grandes jogos, craques e muitos jogadores. Não se tem registro da presença de Charles Miller nem na vila muito menos no campo, mas temos inúmeras provas da marcante presença de Sérgio Ricardo de Lima, o Chalé do Serrano, do Nacional, CA Vila Vitória, Atlético Mineiro de Mauá, AMPA, Marmoraria de São Caetano, Frigorífico ABC de Ribeirão Pires, veterano do Juá e do Grêmio Mauaense.
Das brincadeiras no centenário campo ao profissionalismo
Sérgio tem profundos vínculos com o Distrito de Paranapiacaba, onde morou por dezessete anos, mas sua terra natal é Ribeirão Pires onde nasceu em 25 de março de 1962. Filho de Francisca Mota de Lima e de João Newton de Lima, Chalé começou jogando futebol como goleiro, seguindo os passos de seu pai que, segundo relatos, também teria sido exímio arqueiro. A vila de Paranapiacaba sempre revelou bons jogadores em todas as posições.
Como toda criança da vila inglesa, a principal atividade recreativa para a molecada do pacato lugarejo era ‘jogar bola’ no campo mais antigo do Brasil. Das brincadeiras, Sergio Chalé passou a integrar as equipes menores do tradicional União Lira Serrano, clube fundado em 1903 por trabalhadores da ferrovia. No União, atuou primeiro como goleiro e depois como zagueiro central, passando por todas as categorias da equipe.
Em 1976 foi convidado pra fazer testes no Nacional da Água Branca, por coincidência o clube dos ferroviários da capital paulista. Depois de três dias de treino, passou a constar na lista de atletas aprovados; foram quatro anos no clube da Rua Comendador Souza, já como lateral. Tentou a sorte no Santos FC, onde chegou a realizar testes. Por impaciência desistiu do futebol e foi trabalhar como bancário. Após três anos de trabalho no banco e, ao mesmo tempo, jogando na várzea de Mauá, Chalé retornou ao futebol profissional jogando no Grêmio Mauaense em 1983.
De Sérgio Ricardo a Chalé
O apelido ‘Chalé’ surgiu ainda na época da infância em Paranapiacaba, quando amigos comparavam Sérgio Ricardo com outro jogador mais velho do União cujo apelido era justamente Chalé. Como o titular da alcunha mudou-se da vila, Sérgio acabou adotando o codinome que o acompanha até hoje.
Sergio Chalé chegou em Mauá em 1976, mais precisamente no Jardim Itaparque Velho, onde ficou até 1989; em 1990 voltou pra Ribeirão Pires.
Casou-se em 1991 com Sandra Conceição de Lima e retornou a Mauá. É pai de Leonardo de Lima, que diferente do avô e do pai não optou pela bola, atua na música e é arquiteto. Como atleta, Chalé foi campeão juvenil pelo CA Vila Vitória (1980) e da 3º Divisão de profissionais com o Grêmio Mauaense (1983) ao lado de grandes jogadores. Na memória, Sérgio Ricardo guarda a lembrança de um franzino ponta direita do juvenil do Vila Vitória, habilidoso e que tirava o sono dos zagueiros que depois atenderia pelo nome de Fabinho, atleta campeão brasileiro com o Corinthians em 1990.
Presente na mais importante partida da história do futebol Mauaense, a inauguração do Estádio Municipal Pedro Benedetti, o professor de Educação Física Sergio Ricardo de Lima ‘Chalé’ é grato ao futebol por sua formação acadêmica, sua rede de amigos e suas conquistas pessoais. O atleta conta ainda com a certeza que a cidade, o futebol de Mauá e seus amigos agradecem a trajetória de Chalé, por sua amizade e dedicação ao município que o acolheu.