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Memórias do futebol mauaense: Luiz Manoel do Nascimento Filho

O universo do futebol é muito vasto em suas manifestações e a complexa existência desse esporte envolve ampla e diversificada gama de atividades. No caso específico dos atores principais do espetáculo, os jogadores profissionais ou varzeanos, mesmo quando literalmente ‘penduram as chuteiras’ muitos continuam inseridos nas coisas do esporte bretão: jornalismo esportivo, comentarista, treinador, preparador físico, cartola, empresário de atletas e muitas outras.

Das mais nobres atividades desenvolvidas por ex-jogadores, dentre as diversas citadas, encontram-se sem dúvida as que consistem na tarefa de trabalhar com o futebol em projetos sociais nas periferias das grandes cidades brasileiras, ao exemplo de Luiz Manoel do Nascimento Filho, o ‘Luizinho’ do Parque das Américas. Mais que um esporte, para Luizinho o futebol é uma ferramenta de transformação social.

Luiz Manoel do Nascimento Filho nasceu em 08 de fevereiro de 1970 em Santo André, mas com poucos dias, naquele mesmo 1970 já estava em Mauá. Sua família mudou-se para a cidade e desde então nunca mais saiu daqui, sempre morando no Parque das Américas. Mas claro que assim como outros jogadores-operários, esse personagem do futebol de Mauá também perambulou pelo mundo da bola.

O jogador Luizinho

Como toda criança, Luizinho jogava bola por diversão. Por sua habilidade com a pelota, logo se destacou e foi convidado a jogar nas categorias de base do Grêmio Mauaense, onde com 15 anos de idade já treinava e jogava pelo time principal. Na locomotiva Luizinho jogou até 1991, quando transferiu-se para o Comercial de Campo Belo, em Minas Gerais. Passou ainda por Platinense do Paraná (1993), Itaquaquecetuba EC e Águas de Lindóia (1994), quando encerrou carreira profissional.

Paralelo às dificuldades no futebol profissional em suas equipes menores, Luizinho também sempre jogou em equipes amadoras, atuando em times de várias cidades do ABC: AMPA, Colorado, Amigos do Bela Vista e Juá em Mauá; em São Bernardo Riacho Grande, DER, São Leopoldo e Parque Estoril, em times de São Caetano, de Santo André e de Diadema, onde jogou no Internacional da Vila Nogueira e foi campeão municipal numa decisão contra o Água Santa, então clube varzeano. Luizinho jogava com a dez e como ele mesmo diz, ‘de jogar ali fazendo o quarto homem no meio-campo’ feito seus ídolos Rivaldo e Gerson.

Futebol e resistência

Ligado diretamente com o futebol, Luizinho desenvolve com a ajuda de poucos abnegados e amigos um trabalho capitaneado por sua Associação Academia de Futebol do Parque das Américas (AFUPA). Um de seus principais colaboradores é o treinador e professor Bruno, que junto com Luizinho oferece uma escolinha de futebol para crianças e adolescentes numa expressiva marca de mais de 120 jovens atendidos gratuitamente. Além de formar atletas, o objetivo da associação é formar cidadãos e ‘tirar essas crianças da condição de ficaram fazendo coisas erradas’. Além de buscar recursos e apoios para a manutenção do projeto com os jovens, Luizinho anda bate sua bola no time dos Veteranos da Bola, no campo da Barroca (o mesmo onde atua a AFUPA).

O palmeirense Luizinho critica a presença da política no futebol, que para ele deveria caminhar com suas próprias condições sem a interferência de políticos ou de grupos de interesses. O futebol deveria receber mais apoio público e não político, conforme preconiza. E cita o exemplo da várzea, que para ele é o mais puro que existe no futebol, a maior emoção.

De uma família de boleiros, Luizinho é pai de quatro filhos e acima de tudo, instrutor de vida e de futebol que, em sua academia, propõe a difusão do futebol entre as crianças e do ludopédio como o maior lazer do povo, das pessoas no final de semana, onde o soltar de emoções é tão importante quanto aquele futebol que o fazia correr por um prato de comida na perspectiva de vencer na vida com uma bola nos pés. Sorte dos alunos, parabéns professor.


Equipe juvenil do Grêmio Esportivo Mauaense em partida válida pelo campeonato paulista da categoria. Em pé, da direita para a esquerda: Jiló, Róbson, Russo, Lamartine, Rodolfo, Clodoaldo e Amarildo. Agachados: Luizinho, Neto, Sococo, Marquinho e Wagner. Foto: Acervo pessoal de Luiz Manoel do Nascimento Filho. Data: 1997.
Daniel Alcarria:

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