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Memórias do futebol mauaense: Francisco de Assis Pinto ‘Chiquinho’

Perfilados no campo do Cerâmica, os jogadores campeões mauaenses da temporada de 1977 comemoram o primeiro título da história do tradicional Mocidade FC. Foto: acervo pessoal de Francisco de Assis Pinto. Data: 1977.

Que o futebol em Mauá sempre esteve associado de alguma maneira aos processos econômicos, políticos e sociais da cidade, os documentos históricos disponíveis versam exaustivamente; os exemplos pioneiros dessa associação ligam a prática do esporte desde os anos iniciais da primeira década do século passado, quando times formados por trabalhadores das indústrias ceramistas, das olarias e das pedreiras (principais atividades econômicas de Mauá naquele período) surgiram como alternativa de lazer e recreação daqueles operários.

Muitos trabalhadores dessas atividades da economia local da época jogaram futebol, o que, entretanto não aconteceu com Olavo Pinto e Ana Teodoro. Originários de Minas Gerais, ambos trabalharam durante anos nas pedreiras dos Milanesi, passando aquela dura profissão para os filhos, dentre os quais Francisco de Assis Pinto, o Chiquinho. O centroavante artilheiro diversas vezes campeão mauaense também trabalhou nas pedreiras da região do Itapeva, iniciando nessa lida quando tinha apenas 9 anos de idade.

Natural de Mauá, Chiquinho nasceu em 05 de junho de 1952 meio às pedreiras, numa casa localizada onde atualmente é a Estrada do Carneiro. O local também era conhecido como a Chácara dos Padres. Conforme o pró-prio Chiquinho, “ali não existia nada, era só mato e pedreira”.

Das pedreiras para os campos, gols e títulos

A melhor lembrança dos tempos da dureza do trabalho nas pedreiras de Mauá foi a convivência diária do pai Olavo, com o qual cortou muita pedra. Como viviam da produção, passavam boa parte do tempo trabalhando e não podiam dar mole, o que não impediu Chiquinho de dar suas escapadas para jogar bola nos campinhos próximos. O jovem Francisco de Assis também experimentou muitas “pisas” do pai quando trocava o trabalho por um bom joguinho de bola.

O trabalho duro nas pedreiras lhe rendeu porte físico, o que ajudou na várzea, onde se destacou pela agilidade e rapidez. Em 1965 mudou-se com sua família para Ribeirão Pires, ao tempo que buscava outros trabalhos menos penosos que o corte de pedra. Nesse momento, ainda muito jovem co-nheceu seu primeiro time, na base do tradicional Olaria. Ainda em Ribeirão, teve breve passagem pelo Brasil FC, quando retornou para Mauá. Em 1972 Chiquinho foi jogar no Luso Brasileiro da Vila Vitória (atual Esporte Luso), seu primeiro time na cidade. No rubro-verde permaneceu até 1975, quando recebeu convite de um vizinho (Nenê, também jogador desse clube) para atuar no Mocidade FC, onde viveu seus melhores momentos no futebol. Vestindo a camisa 9 do cinquentenário time do Jardim Zaíra, Chiquinho conquistou os títulos de campeão mauaense de 1977, 1979 e 1989, este último na segunda divisão, consolidando sua trajetória como um dos grandes atacantes que o futebol local produziu, sempre rápido e artilheiro.

Quando da fundação do Grêmio Mauaense, Chiquinho abriu mão da possibilidade de se tornar atleta profissional porque “não compensava financeiramente”, Passou também por AE Mauá, CE União e ainda bate sua bola nos finais de semana vestindo a camisa do PSV, revivendo com amigos belas passagens pelos campos varzeanos de Mauá. Em 1995, a convite de um cunhado que era diretor da Portuguesa de Desportos, jogou nas equipes internas da Lusa do Canindé durante quase 5 anos.

Chiquinho, futebol em família

Morador residente no Jardim Mauá, próximo das antigas pedreiras, Chiquinho é casado com Lídia Alves da Silva Pinto, com quem tem os filhos Luciano, Leandro e Fábio. Sua maior alegria no futebol, além dos títulos e dos gols, é a presença de seus filhos em sua companhia. “Graças a Deus meus três filhos gostam de futebol”.

Com quase 70 anos de idade, Chiquinho ainda reserva seus finais de semana para a resenha do após futebol, onde mantém religiosamente a boa forma física e mental. Depois de muitas pedras cortadas e algumas primaveras para contar, Chiquinho ainda tem a mesma vitalidade dos tempos em que lançava a bola pra si mesmo e chegava antes de zagueiros e goleiros desesperados ao verem a bola no fundo de suas redes. Como uma flecha, poderia ter sido chamado também de Chico Veloz.

Daniel Alcarria:

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