A primeira questão ao observarmos o resultado dessas eleições que salta aos olhos é a força do atual presidente. Bolsonaro obteve 43% dos votos, muito mais do que os 36% -38% que apontavam os institutos de pesquisa (mais um erro enorme, em uma lista que já acumula uma quantidade considerável de equívocos). Isto apesar da condução desastrosa da economia e da pandemia.
Lula conseguiu 48,4% dos votos, terminando em primeiro lugar, mas não conseguiu levar no primeiro turno, apesar de toda a força empregada na campanha do voto útil para finalizar este processo eleitoral ainda no dia 02 de outubro.
Com esta votação, Bolsonaro ganha mais densidade eleitoral, porque pode abrir fissuras na frente ampla construída por Lula com os setores burgueses, vários elementos desta classe, que estavam com o petista, por que imaginavam uma grande vitória, ao ver a força do presidente, podem ter uma postura ambígua ou mesmo debandar para a campanha bolsonarista, o que abre a possibilidade para uma disputa acirrada no segundo turno. O cenário parece mais favorável a Lula, porém, não é razoável subestimar Bolsonaro.
Caso se concretize a vitória de Lula, Bolsonaro com a força eleitoral que demonstrou, tem mais capacidade para tentar realizar uma virada de mesa no jogo político, intenção que nunca escondeu de ninguém. Esta é uma possibilidade que deve estar no horizonte de avaliação de todas as forças políticas democráticas.
Outro ponto relevante é a constituição do congresso. Alguns companheiros de esquerda saíram declarando vitória, porém, olhando o quadro completo, parece que ocorreu o oposto. Na eleição de 2018 os partidos de esquerda e centro-esquerda, PT, PDT, PSB, PSOL, PCdoB e Rede, juntos elegeram 136 deputados, agora em 2022, esses mesmos partidos elegeram 119.
O PT cresceu sua bancada, de 56 para 68, porém, esse crescimento não se deu sobre a direita, mas sobre partidos da centro-esquerda. Por exemplo, o PSB havia eleito em 2018, 32 deputados, agora em 2022 elegeu 14. Portanto, houve diminuição do espectro da esquerda no congresso, o aumento da bancada do PT, por exemplo, foi apenas um rearranjo da correlação de forças dentro do próprio campo progressista.
Em compensação houve toda uma reorganização do campo da direita com hegemonia da extrema-direita, o PL por exemplo saiu de 33 deputados em 2018 para 99 em 2022, os bolsonaristas ganharam mais força dentro do congresso tanto na câmara, quanto no senado. A direita tradicional cedeu terreno para a extrema-direita.
Max Marianek
Graduado em História pela CUFSA e funcionário público