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Não existem só dois lados na política

Passado o primeiro turno das eleições gerais de 2022 fica a sensação de que na política só existem dois lados. Apesar de os resultados demonstrarem a força dessa divisão continuo acreditando que podemos ir muito além disso.

Na minha visão o resultado das eleições foram terríveis para uma porção generosa de lideranças políticas que em 2018 conseguiram se colocar de forma atuante no jogo. Alguns dos bons nomes que surgiram na última eleição sucumbiram diante da um debate pobre em torno de uma polarização entre Bolsonaro e Lula. Muita gente boa não conseguiu se eleger principalmente aqueles que optaram em não escolher um dos dois lados do abismo político.

Enquanto alguns aceitaram o resultado imaginando como será possível restaurar uma política propositiva e independente, outros se deixaram seduzir por convites e acordos em trocas de fotos com “joinhas” declarando seu apoio para algo que parecia antagônico antes do dia 02 de outubro, descartando assim qualquer tipo de coerência, imaginando talvez alguma recuperação de ganho político para seu futuro. Cada vez fica mais claro que palavras como propósito, ética e coerência ficam muito mais fácil em discursos efusivos do que em ações práticas.

Mas e agora, será que ficaremos a mercê de uma política claudicante onde o que vale são discursos populistas e nada mais?? Triste sinal para quem há pouco tempo teve um respiro de algo novo e verdadeiramente transformador.

Corroborando com o que João Amoedo tem declarado já há algum tempo, o desastre de uma direita liberal e independente se deu em decorrência de um direcionamento equivocado de parte de uma classe política que se vestiu de íntegra, liberal e com propósito mas abriu mão desses princípios para apoiar de forma envergonhada o presidente Bolsonaro. Abrir mão de seus princípios em troca de ganhos políticos não faz parte de uma cultura que se desenhou em 2018. Ou seremos intransigentes com o que é errado, ou seremos mais do mesmo. O discurso de que apoia um porque roubou menos que o outro não tem base moral, e claro, apoiar alguém que deveria estar na cadeia por comandar o maior esquema de corrupção do mundo é de se envergonhar. Essa polarização demonstra que os opostos estão muito mais próximos do que podemos acreditar. Será que haverá mudança concreta na política com a eleição de qualquer um dos dois?? Na minha opinião não mudará absolutamente nada, a corrupção e a ineficiência do estado continuará a ditar os rumos do nosso país.

Eu ainda acredito que dá para retomar uma política limpa, decente e propositiva fugindo dessa polarização mas não será nada fácil, talvez mais difícil do que foi em 2018. Porém analisando o resultado do primeiro turno da eleição e utilizando como referência uma reflexão do economista Ricardo Amorim, o país não saiu rachado em duas partes, mas sim em 3 partes. Se somarmos as abstenções, votos brancos e nulos e os votos na “terceira via”, chegamos aos 48 milhões de eleitores, que não estão nada distantes dos 51 milhões dos votos no Bolsonaro e talvez nem tão longe assim dos 59 milhões que votaram no Lula.

Diante desse cenário, está na hora de convocarmos a população a se envolver em um ambiente que está intimamente ligado ao nosso bem estar em sociedade. Não é mais aceitável que a poucos dias das eleições 70% da população não sabia em quem votar para os cargos ao legislativo, não dá para se abster da participação política imaginando a chegada de algum super-herói que nos livrará de tamanho fracasso político, não é possível achar normal não lembrar em quem se votou na última eleição. Não se trata de gostar ou não de política, se trata de gostar da sua vida, da sua liberdade, do futuro dos seus filhos, da imagem do seu país. Ou a gente acorda como cidadãos ou nos deixarão hibernando em uma ignorância fatal.

Alan de Camargo: Empreendedor, Líder do Movimento Livres, RenovaBR e da Rede Global de Empreendedorismo em São Caetano, Colunista do Jornal Imprensa ABC, membro do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico de São Caetano do Sul e membro do CID (UNESCO).

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