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Brasil com esse novo governo seguirá estranhamente parecido com o governo que está acabando

E assim chegamos ao término de mais uma eleição que levará ao comando do país o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para delírio de alguns e constrangimento de outros. Faz parte do jogo democrático, por mais absurdo que possa parecer, parafraseando o próprio Vice-Presidente eleito Geraldo Alckmin, o Lula voltou a cena do crime. Sem querer fazer algum tipo de avaliação jurídica que não me cabe, reconduzir alguém que comandou o maior esquema de corrupção da história da humanidade é um sinal terrível para a nação e reforça a cultura de que o crime compensa.

Diante desse resultado os bolsonaristas de plantão já buscam os culpados para justificar sua derrota: Supremo Tribunal Federal, TSE, Alexandre de Moraes e a Globo aparecem como alvos favoritos. Um erro recorrente de avaliação, já que o verdadeiro culpado pela derrota é o próprio Bolsonaro. O que funcionou para o eleger em 2018 dessa vez contou contra os diversos comportamentos inapropriados, sua forma truculenta de tratar opositores, a caixinha de cloroquina para emas no Palácio da Alvorada, o afrouxamento da Polícia Federal no combate a corrupção e sua falta de diálogo com o extrato da população que não fazem parte da sua bolha foram fundamentais para fracassar sua reeleição.

Agora após o processo eleitoral, assistimos a uma série de manifestações que mais parecem teatrais e sem lucidez. Caminhoneiros interrompendo estradas prejudicando o direito constitucional de ir e vir, manifestantes pedindo intervenção federal ou intervenção militar, subjugando uma possível ditadura de esquerda em troca de uma ditadura de direita. Algo tão absurdo que não encontra respaldo nem no próprio Jair Bolsonaro, que diante do cenário de caos fez uma declaração pedindo o fim das obstruções de estradas.

Nesses dias as mídias sociais e os grupos de WhatsApp estão fervendo de mensagens sobre mais manifestações, pedidos para que empresários fechem suas empresas, que manifestantes tirem fotos sem sorrir, pedidos e mais pedidos de intervenções, pessoas que encontram motivação para sugerir algo não democrático, para apoiar ações ditatoriais que flertam com passagens históricas tão perversas. É hora de refletir e entender que o país é formado por pessoas que pensam diferente, e tudo bem. A eleição foi uma constatação que 51% da população preferiu o Lula, são essas mesmas pessoas utilizando as mesmas urnas que também optaram por eleger 13 governadores apoiados pelo Bolsonaro contra 10 do Lula, foram essas mesmas urnas que deram uma vitória avassaladora ao Bolsonaro no Congresso Federal, elevando para 37 os Senadores bolsonaristas contra apenas 28 alinhados ao Lula e na Câmara Federal elegendo 99 Deputados do PL o que superam e muito os 52 eleitos em 2018 pelo seu partido na época, isso sem contar os demais partidos que apoiaram Bolsonaro nessas eleições.

Acredito que as manifestações devem arrefecer e a transição deve acontecer de forma pacífica. O sistema se encarrega de acomodar os interesses e preservar o ambiente propício aos novos acordos. O centrão vai se encaixar com o novo governo, a oposição será de alguns poucos bolsonaristas mais radicais e o Brasil com esse novo governo seguirá estranhamente parecido com o governo que está acabando.

Alan de Camargo: Empreendedor, Líder do Movimento Livres, RenovaBR e da Rede Global de Empreendedorismo em São Caetano, Colunista do Jornal Imprensa ABC, membro do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico de São Caetano do Sul e membro do CID (UNESCO).

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