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As Ruas Despertam

Após semanas conturbadas, o Governo Federal estava imerso em um ciclo de derrotas que parecia encurralar o presidente Lula. A pressão aumentava diariamente e os mais ansiosos da oposição até chegaram a sussurrar em alguns cantos a palavra impeachment (embora esta não se configure como uma possibilidade imediata).

A grande mídia, ecoando as conjecturas das classes dominantes, começam a debater sobre o “bolsonarismo moderado”, indicando a disposição de certos setores em romper a frente ampla pela direita.

Enquanto isso, o Governo Federal parece ceder cada vez mais, reforçando as falas sobre derrubar os pisos constitucionais da saúde e educação, através de Haddad e Tebet. Como diz o ditado popular, quem recebe um favor não quer apenas a mão, mas também os braços, e, dado o caráter da burguesia nacional, logo virão as pernas, os pés, a cabeça, e assim por diante.

Entretanto, o ímpeto do Congresso em confrontar o governo acabou por despertar as ruas. Arthur Lira, em manobra para ampliar sua aliança com o bolsonarismo, aceitou a urgência na tramitação do projeto de lei que protege estupradores, um absurdo sem precedentes que criminaliza o aborto mesmo em casos de gravidez resultante de estupro, impondo penas mais severas à vítima do que ao agressor. Este fato levou os movimentos populares a tomar as ruas em todo o Brasil para impedir a continuidade do projeto de lei.

Esse movimento espontâneo das mulheres acabou por tirar o governo da defensiva, conferindo-lhe alguma capacidade de reação. Chegamos, assim, ao ponto crucial: foi a mobilização nas ruas que pressionou o Congresso, não os acordos nos bastidores. Foi o movimento social das mulheres que revitalizou o ânimo do governo, sem que este, por sua própria iniciativa, mobilizasse as massas e ampliasse a luta. Imaginem se o governo se dispusesse a dialogar com as massas e a fortalecer os diversos movimentos sociais.

Entretanto, quando isso é mencionado, alguns logo argumentam: “mas esse governo não pode fazer nada, pois não tem maioria no Congresso”, esquecendo que historicamente a esquerda neste país nunca teve maioria (e nunca terá neste sistema liberal), mas ainda assim conseguiu importantes vitórias ao pressionar as instituições por fora.

Max Marianek
Graduado em História
Funcionário Público

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