Você já reparou que a vida é um processo permanente de escolhas? Tudo o que fazemos envolve escolhas. Até mesmo não fazer nada é uma escolha. Às vezes são escolhas forçadas. Não se quer aquilo, mas nas circunstâncias é a possibilidade que sobra. Outras vezes a gente nem se dá conta que escolheu. É o hábito. Se faz sempre a mesma coisa, de tal forma que não tomamos consciência que está envolvido um processo de escolhas. No caso, agimos baseados em escolhas feitas há muito tempo, de modo que a ideia de escolha já nem existe. Mas, pensando bem, repetir sempre a mesma coisa significa a escolha, ainda que inconsciente, de não mudar.
Em termos de concepção de vida ou de visão de mundo, podemos dizer que também está envolvido um processo de escolhas. O mundo de hoje, de capitalismo, de neoliberalismo, nos dá duas grandes possibilidades de escolha. De cada uma delas pode surgir uma infinidade de outras e de posturas diferenciadas, mas há duas básicas. Uma é a de pensar que o êxito na vida depende de cada um individualmente. É pelo seu esforço, sua dedicação, seu empenho, sua esperteza, que você poderá / deverá “se dar bem na vida”. Evidentemente, aqui está o individualismo, a competição, a meritocracia. Isto é, é pelo mérito individual que se chega a lugares ou postos desejados. Intrinsecamente vinculada a esta postura está a ideia da igualdade de oportunidades. Para uns mais, para outros menos, mas as possibilidades existem e você pode, individualmente, ‘chegar lá’.
Ainda que não se tenha consciência muito clara disso, essa é uma ideia dominante na sociedade. Não apenas isso, mas há uma máquina, representada principalmente pelos meios de comunicação social, pelas mídias, pelos ‘formadores de opinião’, pelas instituições de educação, pelas igrejas etc., que fomenta diariamente essa posição, ainda que de forma dissimulada. Essa é, por exemplo, a essência dos aparatos de propaganda, ou seja, fomentar desejos. E os desejos mobilizam as pessoas para conseguirem tal ou qual coisa, tal ou qual situação na vida.
A outra posição é a que presta atenção, por um lado nos números da população, por outro lado, nas condições objetivas de vida. É aquela que se dá conta que a imensa maioria está submetida a condições das quais não tem como escapar. Até tem metas e desejos, mas não tem a menor condição de realizá-las. A frustração e o sofrimento acompanham cada momento da vida. Percentualmente em relação à população, temos aqui a imensa maioria. Igualdade de oportunidades? Não existe. Meritocracia? De nada adianta. Mesmo aqueles, ou aquelas, de camadas pobres, que com base em virtudes incomuns, em aptidões pessoais, pela sorte, conseguem ‘furar o esquema’ e se destacar ou atingir níveis elevados de vida, apenas confirmam que isso é para pouquíssimos.
Tem saída? Penso que sim. Mas aqui está a diferença: a saída não é individual. Não é pela individualidade. Por essa via, a sociedade continuará sempre esse imenso fosso entre uns poucos que tem quase tudo e a quase totalidade, que tem muito pouco. É só pela união, pelo coletivo, pela junção de forças dos que nada ou quase nada têm, que se pode chegar a uma saída. Que se pode pressionar de tal forma o sistema social, que se consiga, aos poucos, por meio de políticas públicas para a maioria, ir transformando a situação. Isso exige dar-se conta das condições, assumir consciência, assumir compromisso com causas coletivas, se organizar coletivamente, se mobilizar em prol de uma causa comum, a da transformação da sociedade. Paulo Freire dizia: Mudar é difícil, mas é possível.
É claro que ao se falar disso se está falando de política. E em política, escolha significa eleição. Não necessariamente eleição para cargos, seja do legislativo ou executivo. Mas eleição, escolha, de um lado. O lado dos que experimentam o mundo como um vale de lágrimas, mas não se conformam e querem mudar isso. O outro lado é o dos que experimentam o mundo como um lugar de prazeres. E dos iludidos, que, como as mariposas, vivem a vida girando em torno da lâmpada, mas que nunca chegarão a ter luz própria.
Qual sua escolha, sua eleição? De que lado você está?
Prof. Luiz Eduardo Prates