Eleições municipais interessam aos municípios e seus âmbitos de alcance são, em princípio, bastante restritos. Algumas, entretanto, tem poder de influência bem maiores. É o caso, hoje em dia, das eleições em São Paulo. É a maior cidade do Brasil e da América do Sul e tem o terceiro orçamento em nosso país, perdendo apenas para a União e para o próprio Estado de São Paulo.
Ali se concentra o núcleo do capitalismo nacional, que hoje, geográfica e economicamente é chamado de Faria Lima. Ali estão os grandes conglomerados financeiros, as grandes empresas, os grandes comerciantes do comércio internacional do país, os grandes investidores de capital nas bolsas de ações do mundo todo.
Idealmente se poderia pensar que, em um local em que há tão grande riqueza, os níveis de vida de toda a população deveriam ser altos ou no mínimo aceitáveis. Não é o que se constata. Considerando-se somente a população vivendo em situação de rua chega-se a mais de oitenta mil pessoas, número de habitantes maior que centenas ou milhares de cidades consideradas pequenas ou médias no Brasil. As causas são diversas, falta de oportunidades de trabalho, falta de qualificação profissional, falta de infraestrutura de acolhimento e de orientação e encaminhamento etc. Causas que, no mínimo, poderiam ser atenuadas por uma atuação eficiente dos poderes públicos com tantos recursos.
Soma-se a isso, milhões de pessoas vivendo em condições precárias nas periferias e com trabalhos igualmente precários, com remuneração mínima e insuficiente para uma vida digna. Nessas condições, não surpreende que uma parte da população, principalmente a juventude, por falta de oportunidades e perspectivas de vida, se entregue ao crime ou às drogas. Temos que considerar, com seriedade, algo que os meios de comunicação usualmente não difundem, ou seja, que a paz na cidade se deve à correção de vida e à honestidade da imensa maioria dos trabalhadores e das pessoas pobres. Ao invés de divulgar isso, são divulgados eventos realmente impactantes, os mais diversos, de crimes, acidentes, chacinas etc. que horrorizam e deixam insegura a população, mas que, nem de longe, chegam a ser proporcionais ao número da população que vive em condições precárias de vida, trabalho, educação, oportunidades enfim.
Junto a tudo isso, uma classe média relativamente extensa, mas cuja fração mais alta é muito reduzida. A imensa maioria do que se poderia considerar como classe média baixa, vive com salários restritos, mas que atendem minimamente às necessidades básicas.
Ou seja, em alguma medida, a cidade de São Paulo reproduz, em termos de perfil econômico da população, o que é o Brasil.
Por esse motivo, eleições municipais em um município como esse, tem repercussões que vão muito além de suas fronteiras e inegavelmente impactam a nação como um todo.
Em disputa, duas posições. Manter relativamente o que está colocado, talvez aperfeiçoando aqui ou ali algum serviço ou atendimento, mas sem mudar estruturalmente nada e conservando uma sensação dúbia de segurança porque, ao não mexer nas causas dos problemas, mantém intactas condições que propiciam busca de soluções violentas. Do outro lado, uma tentativa sincera, porém sabidamente com limitações colocadas pelo jogo de forças econômicas e políticas, de alterar minimamente a situação em favor da parte mais empobrecida e sofrida da população.
Quem é eleitor de outros municípios e está atento a essa realidade fica apenas na observação e expectativa do que irá acontecer, mas poderá, eventualmente, alertar amigos ou parentes da capital para o que está em disputa. Quem é eleitor na cidade de São Paulo, tem a oportunidade de analisando bem a situação, se posicionar em relação às alternativas apontadas. Hora de despertar.
Prof. Luiz Eduardo Prates