Com o fim do segundo turno, temos o quadro completo das eleições municipais de 2024 e as tendências observadas em relação aos resultados se aprofundaram. Para a esquerda, foi uma derrota profunda, pois, mesmo com o partido hegemônico do campo à frente do governo federal, os resultados foram fracos.
Nos 103 municípios mais populosos, que concentram 40% do eleitorado e representam menos de 2% das 5.570 cidades brasileiras, está localizada boa parte da produção econômica e da formulação de correntes políticas que influenciam o restante do país, projetando lideranças e forças políticas no cenário nacional. O resultado foi desastroso. Somando todos os partidos de esquerda e sendo generoso ao incluir PSB, PDT e PV nesse grupo, essas agremiações elegeram apenas 10 prefeitos no total de 103. Os outros 93 municípios ficaram com a extrema direita e a direita, sendo que o PL de Bolsonaro elegeu 16 prefeitos nesse grupo, conquistando o primeiro lugar, além de obter a maioria dos votos populares. Essa disputa não foi nem um 7×1, mas um 9×1!
O complicado é que, enquanto nas pequenas cidades, marcadas por pequenas oligarquias e redes de poder local, a esquerda sempre teve dificuldades de penetrar, nas grandes cidades a esquerda historicamente possuía um bom desempenho. É claro que, ao observar o resultado geral, percebemos que o grupo político vitorioso foi o da direita tradicional, mas é evidente que esse grupo vem sendo cada vez mais pressionado a se aproximar da extrema direita, mostrando um fortalecimento claro desse último.
Mesmo que alguns candidatos de Bolsonaro tenham perdido, isso está longe de ser uma derrota para esse campo político. Não podemos tapar o sol com a peneira e agir como algumas lideranças que tentam enganar a militância ao falar de vitória. O PT, por exemplo, teve um pequeno crescimento, mas muito aquém do esperado para uma força que controla o governo federal. Em vários casos, esse crescimento foi sobre outros partidos do campo progressista, como em Fortaleza, onde o partido conquistou a prefeitura que estava sob controle do PDT.
No cômputo geral, o que fica explícito é que agora as grandes cidades caminharam para a direita, e a extrema direita sai muito fortalecida. Esse resultado deve fazer a esquerda refletir profundamente sobre sua atual estratégia e discutir os motivos dessa derrota.
E para aqueles que tinham a ilusão de que a esquerda conseguiria eleger mais deputados em 2022 ou até formar uma maioria, é melhor tirar o cavalinho da chuva para 2026, pois, com o atual cenário, as próximas eleições legislativas serão ainda mais duras.
Max Marianek
Graduado em História
Funcionário Público