A façanha conquistada pela União Soviética foi mesmo notável. De uma Rússia praticamente medieval e uma economia com muitos traços feudais no início do século XX, em por volta de 30 anos, se tornou a segunda economia do mundo, com um desenvolvimento industrial extraordinário. Mesmo assim, 75 anos depois de seu início a chamada URSS experimentou sua derrocada final avassaladora, como dizem alguns analistas, sem que fosse disparado um tiro sequer.
O que explica a queda da União Soviética? Esse é um tema que ocupou alguns meios, mas que hoje já não está visível ao grande público em consequência da hegemonia capitalista e neoliberal sobre os meios de informação e comunicação. Mesmo assim, ainda por muito tempo vai ocupar pessoas e requerer atenção. Evidentemente uma derrocada tão aplastadora não se deveu a um único fator. Devem ser muitos os motivos que levaram a isso. Entretanto, podemos ensaiar uma explicação dizendo que a URSS foi vencida pela avalanche capitalista na chamada Guerra Fria. Um país, ou um conglomerado de países, formado em torno do sonho das multidões de distribuição de renda e de vida digna e confortável para toda a população viu os recursos financeiros altíssimos, que possibilitariam essa qualidade de vida, carreados para a corrida armamentista e a corrida espacial. Outros fatores evidentemente entraram nessa equação, como a necessidade de controle social absurdo para garantir esse modelo e, eventualmente, uma burocracia com níveis de vida diferenciada em relação ao todo da população. Entretanto, a riqueza desprendida para as corridas armamentista e espacial, sufocaram a possibilidade da continuidade de desenvolvimento em todas as áreas econômicas e sociais.
Mas é necessário termos claro que as conquistas econômicas para a população em geral talvez tenha sido mais efetivas nos países capitalistas do que na própria URSS. Isto porque, temorosos que o encanto com o sonho socialista levasse as massas dos países centrais do capitalismo a aderirem os princípios da URSS, formou-se, no chamado Ocidente, o denominado Estado de Bem Estar Social. Ou seja, a despeito do princípio capitalista de sempre acumular sempre mais, as economias desses países tiveram que dispensar grande parte de seus ganhos para garantir níveis de vida e de perspectivas de futuro elevados de forma generalizada. Nomeadamente na Europa e nos Estados Unidos da América.
Vencido o chamado “perigo comunista”, o capitalismo se viu livre para retomar a acumulação desenfreada. Surgiu o chamado neoliberalismo. Hoje são as grandes fortunas e as grandes corporações sem coloração nacional que controlam a economia mundial. Evidentemente a sede desses grandes capitais está nos chamados países centrais. Mas esse é um detalhe, ainda que o controle político desse país seja indispensável para manter a acumulação.
A que correspondeu essa retomada da acumulação desenfreada nos países capitalistas? Correspondeu a degradação dos níveis de vida e a perplexidade com um futuro incerto para a maioria da população. Nessa situação, sem ter como se esclarecer sobre as verdadeiras causas de sua situação devido ao controle das mídias e mais recentemente às fake news e à manipulação da inteligência artificial, as massas optam por modelos autoritários e de direita e extrema direita, em busca de solução. Entretanto, a solução não chega. O que chega é o aprofundamento do modelo e a acumulação cada vez maior levando à projetos mirabolantes como a colonização do espaço cósmico, enquanto aqui na terra por volta de 80% da população sofre. Some-se a isso, a imparável dilapidação do meio ambiente, inclusive para a extração de minérios raros, necessários à continuidade dos projetos tecnológicos que fazem parte do modelo.
Uma reflexão importante de se fazer é que, ao colapso das economias socialistas da URSS as massas tinham um horizonte a recorrer, o sonho capitalista. E a acumulação capitalista está levando ao colapso da civilização e das possibilidades de vida no planeta. Teremos alternativas a isto?
Professor Luiz Eduardo Prates