A questão das classes sociais nos remete à problemática da luta de classe. Se as classes se constituem numa relação antagônica, elas se definem como politicamente opostas e em luta. O movimento contraditório que determina a relação de classes na sociedade burguesa também fundamenta a luta de classes de modo específico. As classes sociais estão constantemente em luta, e é esse processo que revela o caráter antagônico das relações capitalistas de produção.
As greves, as reivindicações por melhores condições de existência, são formas de expressão, no plano mais aparente, da impossibilidade de conciliar os interesses de classes. Mas por que os interesses são inconciliáveis? A resposta a essa questão nos remete sempre à esfera política, uma vez que os interesses de classes são políticos e se definem pelas próprias práticas sociais.
A dominação política de uma classe sobre as demais se funda também no conjunto de práticas sociais. Ou seja, as relações sociais estabelecidas na sociedade capitalista alicerçam o processo de dominação econômica, política, ideológica, cultural, etc. Fica evidenciado, dessa forma, o embate constante para a manutenção de posições de mando e de poder. Todas as esferas da vida social estão impregnadas dessa luta. No âmbito cultural todas manifestações artísticas – literatura, cinema, música, expressam o processo de dominação ideológica, que é garantida pela construção de determinada concepção de mundo.
A luta de classe perpassa todos os momentos da vida social, não se manifestando apenas na esfera econômica através de greves, por exemplo. Talvez a greve seja o aspecto mais evidente dessa luta. Há, no entanto, formas absolutamente mais sutis, disfarçadas, de a luta de classe se manifestar no cotidiano dos indivíduos.
Tomemos, por exemplo, a telenovela. Ela é um elemento de expressão política e ideológica que estabelece luta de classe, uma vez que difunde uma maneira de ver o mundo na qual tudo pode acontecer, todos podem ser ricos, os pobres são felizes, há sempre um príncipe encantado que resolve os problemas da moça pobre e sem perspectivas, e assim por diante.
Outro exemplo bastante educativo da luta que se estabelece no dia-a-dia dos indivíduos é a propaganda. A quem se dirige a propaganda de um carro completamente sofisticado? De imediato pensamos: àquele que pode comprá-lo. É também, mas não só a ele. A propaganda é capaz de criar nos indivíduos, mesmo naqueles que nunca poderão comprar um carro em questão, uma fantasia, uma perspectiva que os remeta a uma situação em que eles acreditem ser possível, algum dia obter aquele produto. Nas propagandas em geral, aparecem homens que “venceram na vida”, ou que tiveram sucesso, o que faz com que os indivíduos construam uma concepção de mundo pautada em elementos que encobrem a sua condição de vida real.
A dominação ideológica é fundamental para a manutenção e reprodução da organização social pautada nas classes, e um de seus papeis é o encobrimento do caráter extremamente contraditório do sistema capitalista, uma vez que mistifica o real caráter das relações estabelecidas pelos indivíduos na sociedade burguesa.