O viver política

Não basta viver politicamente, temos que conhecer essa vivência cientificamente e para que ela serve. A política assim como as outras ciências humanas ( História, Sociologia, Antropologia, Economia etc.), tem como objetivo compreender e explicar as permanências e as transformações que ocorrem nas sociedades humanas e até indicar algumas pistas sobre os rumos das mudanças.
Através dos tempos, os seres humanos buscaram suprir suas necessidades básicas mediante a produção não só de alimentos, abrigo e vestuário, mas também de normas, valores, costumes, relações de poder, arte e explicações sobre a vida e sobre o mundo. Viver em sociedade é participar dessa produção. Ao fazê-lo, acabamos produzindo a história das pessoas, dos grupos e das classes sociais. Por isso, a política tem uma estreita relação com a História. Basta dizer que precisamos de ambas para explicar a existência da própria vida humana.
A política procura dar respostas a questões como por exemplo, a forma como as pessoas agem e pensam; o relacionamento de uns com outros padronizadamente; as desigualdades no cotidiano; as relações de poder na sociedade; os direitos a cidadania; interesses dos movimentos sociais; transformações revolucionárias ou apenas reformadoras; a cultura e sua relação com os meios de comunicação de massa.
A política nos ajuda a entender melhor essas e outras questões que envolvem nosso cotidiano, sejam elas de caráter pessoal, grupal, ou, ainda, relativas à sociedade a qual pertencemos ou a todas as sociedades. Mas o fundamental da política é fornecer-nos conceitos e outras ferramentas para analisar as questões sociais e individuais de um modo sistemático e consciente, indo além do senso comum.
O pensamento político quando se coloca numa posição crítica, incomoda muito, porque, como outras ciências humanas, revela aspectos da sociedade que certos indivíduos ou grupos se empenham em ocultar. Se esses indivíduos ou grupos procuram impedir que determinados atos e fenômenos sejam conhecidos do público, de alguma forma o esclarecimento de tais fatos pode perturbar seus interesses ou mesmo concepções, explicações e convicções.
Ora, uma das preocupações da política é justamente formar indivíduos autônomos, que se transformem em pensadores independentes, capazes de analisar o noticiário, as novelas da televisão, os programas do dia a dia e as entrevistas das autoridades, percebendo o que se oculta nos discursos e formando o próprio pensamento e julgamento sobre os fatos, ou, ainda mais importante, que tenham a capacidade de fazer as próprias perguntas para alcançar um conhecimento mais preciso da sociedade à qual pertencem.
Agir politicamente contribui também para desenvolver nossa imaginação no viver em sociedade, isto é, capacidade de analisar nossas vivências cotidianas e estabelecer as relações entre elas e as situações mais amplas que nos condicionam e nos limitam, mas que também explicam o que acontece com nossa vida.