Boletim Seade/Dieese, realizado em parceria com o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, mostra que crescimento econômico não resolve problema da desigualdade
O desenvolvimento econômico da última década favoreceu a inserção dos negros no mercado de trabalho na região do ABC e melhorou as taxas de emprego formal, porém com rendimento menor em relação aos não negros. É o que mostra estudo intitulado “Os Negros no Mercado de Trabalho da Região do ABC”, realizado pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e Dieese (Departamento Intersindical da Estatística e Estudos Socioeconômicos), em parceria com o Consórcio Intermunicipal Grande ABC. O Boletim Especial foi apresentado uma semana antes das comemorações pelo Dia Nacional da Consciência Negra, em 20 de novembro.
O levantamento mostrou que a diferença entre as taxas de desemprego total de negros (pretos e pardos) e não negros (brancos e asiáticos) diminuiu sensivelmente na análise comparativa entre o biênio 2010/2011 e o biênio 2001/2002. No entanto, essas diferenças ainda são importantes. Após uma década, a taxa de desemprego dos negros (12,8%) continua superando a dos não negros (9,6%), mas a diferença caiu de 6,6% em 2001/2002, para 3,2% em 2010/ 2011.
O estudo foi realizado a partir de informações da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED/ABC), divulgada mensalmente pelo Consórcio. As informações sobre os rendimentos do trabalho de negros e não negros na Região do ABC demonstram a permanência de desigualdades há muito tempo identificadas no mercado de trabalho. O rendimento médio por hora de negros (R$ 6,35) representava 59,9% daquele recebido pelos não negros (R$ 10,60), em 2010-2011. Em 2001/2002 os negros recebiam 61,4% do que ganhavam os não negros, ou seja, em vez de diminuir, as diferenças de rendimento tiveram pequeno aumento.
As razões mais evidentes para essa situação residem nas diferentes estruturas ocupacionais em que esses segmentos estão inseridos. O crescimento menor do rendimento por hora dos negros (3,0%) em relação ao dos não negros (5,5%), entre 2001-2002 e 2010-2011, intensificou em alguns segmentos essas diferenças. O estudo pretende colaborar para a identificação de aspectos geradores dessas diferenças e para a indicação de possibilidades de atuação de políticas públicas que contribuam para a redução das disparidades no mercado de trabalho.
Em relação à inserção por setor de atividade, os não negros tinham maior participação nos Serviços e no Comércio, ao passo que na Indústria a participação dos grupos era semelhante. Os setores em que a proporção de negros superava a de não negros – Construção Civil e Serviços Domésticos – são aqueles em que predominam postos de trabalho com menores exigências de qualificação profissional, remunerações mais baixas e relações de trabalho mais precárias, sendo, por consequência, menos valorizados socialmente.
Igualdade Racial
O coordenador do Grupo de Trabalho Igualdade Racial, do Consórcio, Leon Padial, acompanhou a apresentação do estudo e comemorou o fato de análises como a apresentada pelo Boletim Especial ajudarem a identificar o tamanho da desigualdade entre os segmentos, pontuando onde ela é mais forte e apontando soluções.
Padial se surpreendeu com o comparativo entre a situação do ABC e a Região Metropolitana de São Paulo, onde segundo o técnico da Fundação Seade, Alexandre Loloian, o rendimento médio real por hora foi 61% dos recebidos por não negros (contra os 59,9 % na região). “Vamos nos debruçar no GT em relação a esse estudo porque se houve ganho de renda na região metropolitana, precisamos analisar qual o motivo de o mesmo não acontecer aqui”, adiantou o coordenador.