Obra é fruto de estudo sobre os motivos da submissão ao trote, efeitos e consequências para alunos e instituições de ensino
A Faculdade de Medicina do ABC realiza em 30 de novembro (sexta-feira) manhã de autógrafos para o lançamento do livro “Bulindo com a universidade: um estudo sobre o trote na Medicina”. Assinada pelos professores Marco Akerman, Silmara Conchão e Roberta Cristina Boaretto, a obra é fruto de estudo desenvolvido pela disciplina de Saúde Coletiva e busca discutir os motivos dos alunos se submeterem ao trote – muitas vezes abusivo – na entrada e permanência na faculdade, assim como revelar as práticas trotistas, seus efeitos, dinâmicas sociais e reflexos sobre a instituição de ensino. O lançamento será às 11h na Biblioteca da FMABC (Av. Príncipe de Gales, 821 – Santo André).
“O trote é ousado, quer bulir com todos. É violento e ninguém ousa bulir com ele. É considerado um fenômeno social, cultural e histórico. Não é específico de uma carreira e muito menos de uma universidade, mas é curioso notar que no curso de Medicina tem sido um dos mais agressivos”, revelam os autores, que dedicam o livro “aos alunos e alunas que corajosamente quebraram o silêncio do trote violento, tornando esse estudo possível e marcando a história com novas possibilidades na FMABC”.
Com 112 páginas divididas em 8 capítulos, “Bulindo com a universidade: um estudo sobre o trote na Medicina” será lançado pela Hucitec Editora e pelo Centro de Estudos de Saúde Coletiva do ABC.
Realidade universitária: O trote pode ser definido como conjunto de intimidações, abusos e assimetrias de poder entre estudantes e que não se restringe ao período de recepção. São atos que persistem ao longo do ano e do curso, fazendo imaginar que o bullying – atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente causando dor e angústia – relatado no ensino fundamental e médio também está presente no ensino universitário.
“Incomoda profundamente escutar depoimentos de estudantes sobre a humilhação durante a recepção. São relatos de histórias bizarras e episódios de violência difíceis de compreender à luz de qualquer marco civilizatório contemporâneo, bem como no âmbito do respeito aos mais elementares direitos humanos. É bom que se diga claramente: todo trote é sempre violento, pois se funda no desrespeito ao outro, na colonização pelas ideias dos grupos que o aplicam”, afirmam os autores.
Muitos são os relatos de enfrentamento do problema por parte das faculdades. Os resultados são variados e algumas histórias de sucesso estão conectadas com tragédias anteriores ou com a necessidade de expulsões de alunos que cometeram crimes.
Vale lembrar que não são todos os novos alunos que se submetem ao trote. Porém, a negativa tem um preço: não conseguem ser parte do “corpo” e há indícios de que é dificultada a participação em atividades acadêmicas extracurriculares ou na direção de entidades estudantis. Quando formados, enfrentam problemas na inserção onde há chefias ou coordenações de grupos trotistas.
“Trata-se de incômodo debate, que precisa ser enfrentado a fim de erradicar a violência e a intimidação nas instituições de ensino. O trote é ousado. Está pronto para capturar suas vítimas e formar reprodutores. Quer bulir com todos, é também violento e nem todos que ousam bulir com o trote são bem sucedidos. Essa é a atual realidade universitária, que precisa ser transformada com urgência”, advertem os professores da FMABC.