Um dos símbolos de déspotas contemporâneos agarrados ao poder e alheios às necessidades de seus cidadãos, transformaram o Oriente Médio e o norte da África em uma das regiões mais autoritárias do planeta.
Por exemplo, em quatro décadas de reinado brutal Muamar Kadafi conseguiu reunir em torno de si todos os estereótipos de um ditador extravagante, sanguinário e opressor. Preocupado com as vastas reservas de petróleo e gás, ao longo das últimas décadas, os líderes ocidentais preferiram ver o ditador líbio apenas como uma espécie de déspota excêntrico. Suas enfermeiras ucranianas, suas roupas coloridas ou mesmo a insistente obsessão em montar tendas luxuosas onde quer que fosse serviram de combustível para conversas animadas no pragmático mundo da diplomacia internacional. Nos últimos anos, Kadafi chegou a estabelecer relações para lá de cordiais com primeiros ministros ou presidentes defensores da democracia, como o britânico Tony Blair ou mesmo o ex presidente Lula.
As imagens de corpos humanos destroçados por armas de grosso calibre, os relatos de ataques aéreos contra manifestantes desarmados e o desespero de milhares de estrangeiros em fugir da Líbia fizeram o mundo recordar, sobressaltado, que Kadafi não passou de um ditador sanguinário, considerado um louco psicopata até mesmo por seus pares.
Uma onda libertária como um vírus que se espalha pelo ar, tomou conta da Líbia exigindo melhor qualidade de vida, o fim do regime opressivo e cruel, democracia. Não resta dúvida
que essa saudável epidemia popular colocou fim a um dos mais longevo e cruel governo do planeta. Emblematicamente reforça-se a ideia de que não há antídoto contra os desejos de um povo cansado de opressão e pobreza.
As consequências dessa contaminação democrática em massa rompe com anos de relações clientelistas que incentivaram a manutenção de muitas ditaduras. Hoje, ninguém sabe como serão as novas relações nessa parte do planeta, mas um sinal é o êxodo de migrantes desses países para a União Europeia. Medidas de recessão antipopulares alimentam protestos.
A única certeza por enquanto é que a Líbia não será o último país a ser contaminado de forma avassaladora por essa epidemia de liberdade.