Modelo adotado se contrapõe ao sistema de internação manicomial tradicional, marcado pelo confinamento, dependência e perda da dignidade
Depois de viver em hospitais psiquiátricos por mais de duas décadas, Sonia de Fátima Rosa, 54 anos, redescobriu o prazer de viver. Há um ano e oito meses passando por atendimento no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) III Álcool e Drogas de São Bernardo do Campo, ela se sente praticamente curada.
Diagnosticada como esquizofrênica, Sonia passou por diversas internações psiquiátricas. Hoje, ela preside a Associação Mente Ativa e trabalha na lanchonete e pastelaria Q’Sabor, iniciativa que nasceu da oficina de culinária iniciada no Caps e que atualmente funciona nas dependências da Central de Trabalho e Renda, no Centro.
A lanchonete faz parte do Núcleo de Arte e Trabalho (Nutrarte), projeto de geração de renda. No espaço também são oferecidas oficinas de pastelaria, culinária, tapeçaria, sacolas de pet work, customização e artesanato. “Em menos de dois anos no Caps, recebi o que não tive a vida inteira. Antes de passar por esse serviço, sofri um verdadeiro destratamento em manicômios”, declarou Sonia.
Esse exemplo é resultado da política adotada por São Bernardo, que tornou a cidade referência nacional na área de atendimento à saúde mental. O modelo adotado em São Bernardo prevê o atendimento das necessidades médicas, mas também psicológicas, sociais e profissionais dos usuários.
Todas as ações contam com a parceria do Ministério da Saúde, do Governo Federal. O resgate da liberdade, da autonomia e dos direitos dos atendidos se contrapõe ao sistema de internação manicomial, marcado pelo confinamento, dependência e perda da dignidade.
A rede de Saúde Mental de São Bernardo realiza em média 4 mil atendimentos por mês e conta com 1.500 pessoas em oficinas terapêuticas diversas. Dessas, cerca de 770 são usuários de álcool e outras drogas.
Movimento Antimanicomial – O movimento antimanicomial nasceu na Itália, na década de 1960, quando a internação de portadores de doenças mentais em instituições psiquiátricas começou a ser contestada como a melhor forma de tratar as pessoas.
No Brasil, essa mudança começou em 2001, com a aprovação do projeto de lei 10.216, que introduziu a reforma psiquiátrica no País, transferindo o tratamento, que se concentrava na instituição hospitalar, para uma rede de Atenção Psicossocial com unidades abertas.
Como símbolo do esforço, foi instituído o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, comemorado em 18 de maio. Para celebrar a data, a Prefeitura de São Bernardo organizou ampla programação de 13 a 25 deste mês, que englobou piqueniques, torneio de futebol, rodas de conversa, conferências e mostras de cinema, entre outras atividades.
Ampliação da rede – A partir de 2009, a Prefeitura vem ampliando e aperfeiçoando continuamente a rede de saúde mental. O número de Centros de Atenção Psicossocial (Caps) foi de dois para seis unidades – sendo uma infantil. Além disso, o horário de funcionamento dos Caps Álcool e Drogas (AD) passou a ser 24 horas. A Prefeitura implementou também duas repúblicas terapêuticas, cinco residências terapêuticas, o Consultório de Rua e o Conselho Municipal de Prevenção e Atenção às Pessoas em Uso Abusivo de Álcool e Outras Drogas (Comad).