Com destaque para o acolhimento, local será especializado na infusão de medicamentos biológicos contra doença de Crohn e retocolite ulcerativa
A disciplina de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina do ABC inaugura hoje (terça-feira, 13 de agosto) o Centro de Excelência em Terapia de Alta Complexidade – braço do Núcleo de Doenças Inflamatórias Intestinais, destinado ao tratamento e acolhimento de pacientes que necessitam de terapia biológica no combate à doença de Crohn ou retocolite ulcerativa. O lançamento do espaço ocorrerá durante evento multiprofissional inserido na programação científica do 38º Congresso Médico Universitário do ABC (Comuabc). A cerimônia será às 19h30, no Anfiteatro David Uip, no próprio campus universitário (Av. Príncipe de Gales, 821 – Santo André).
A doença de Crohn e a retocolite ulcerativa são inflamações intestinais crônicas relativamente frequentes e de difícil diagnóstico. Segundo o professor titular de Gastroenterologia da FMABC, Dr. Wilson Roberto Catapani, em uma região de aproximadamente 3 milhões de habitantes – como a do Grande ABC – podem existir milhares de portadores. “São doenças complexas, que demandam tratamentos especializados e acompanhamento por equipe multidisciplinar com gastroenterologistas e proctologistas, enfermeiros, nutricionistas e psicólogos, entre outros profissionais”, acrescenta.
Pensando no atendimento integral aos pacientes, a Medicina ABC implantou em 2012 o Núcleo de Doenças Inflamatórias Intestinais – iniciativa pioneira, que busca justamente disponibilizar via Sistema Único de Saúde atendimento abrangente aos doentes. Com o novo Centro de Excelência em Terapia de Alta Complexidade, a estrutura terapêutica estará completa. “Muitos pacientes necessitam de terapia biológica, cujas medicações são de alto custo, mas fornecidas gratuitamente pelo governo. O problema é que a administração dessas drogas requer acompanhamento diferenciado e infusão por via intravenosa. É nesse ponto que entra o Centro de Excelência, onde pretendemos não apenas fazer a infusão dos medicamentos, mas acolher os pacientes”, garante Dr. Wilson Catapani.
O local contará com supervisão da enfermeira Patrícia Thesotto Vaz, especializada em doenças inflamatórias intestinais e que estará responsável pelos cuidados pré-aplicação e durante a infusão dos medicamentos. Entre os diferenciais do espaço está a humanização do atendimento, com exibição de filmes, empréstimo de livros e revistas, além de parceria com a ONG Sorrir é Viver, cujos palhaços e contadores de histórias farão visitas regulares aos pacientes.
“Não buscamos tratar somente o lado físico. Queremos acolher os pacientes e fazer com que se sintam à vontade no Centro de Terapia, para que o tratamento seja mais agradável e o tempo passe mais rápido”, explica a coloproctologista e professora da Faculdade de Medicina do ABC, Dra. Sandra Di Felice Boratto, que completa: “Estamos investindo na humanização do atendimento e esperamos que os pacientes participem com propostas e ideias, para que possamos aprimorar dia a dia o serviço. Queremos um centro de excelência para tratar, mas que também seja excelente para acolher”.
Pacientes com diagnóstico confirmado ou suspeita de doença inflamatória intestinal podem obter mais informações sobre o Centro de Excelência em Terapia de Alta Complexidade da FMABC pelo telefone (11) 4993-5416.
Complexidade terapêutica
Tanto a doença de Crohn como a retocolite não tem cura e necessitam de supervisão médica constante. A maior incidência normalmente ocorre em jovens de 18 a 28 anos. Os principais sintomas na retocolite são dores abdominais e diarreia com sangramento. A doença de Crohn pode ter diagnóstico mais difícil por apresentar maior variedade de sintomas, geralmente associados ao emagrecimento e à dor abdominal. A principal diferença entre as patologias é que a retocolite atinge apenas a região do intestino grosso. Já Crohn aparece em qualquer setor do aparelho digestivo, podendo causar em alguns casos obstrução intestinal.
As duas doenças decorrem de alteração no sistema imunológico do intestino, que tem como consequência a inflamação. As origens são desconhecidas, mas pesquisas apontam que fatores hereditários potencializam o desenvolvimento. “Há algum tempo pensava-se que problemas psicológicos e estresse eram fatores diretamente causadores das doenças inflamatórias intestinais, mas hoje sabemos que são apenas exacerbadores dos sintomas”, esclarece Dr. Wilson Catapani, que explica as medidas terapêuticas: “A opção entre o tratamento clínico e o cirúrgico depende da análise individual do paciente, pois nem sempre a mesma doença tem a mesma gravidade”.
O tratamento clínico é à base de medicamentos, que varia conforme a extensão do comprometimento da doença. O manejo das drogas requer habilidade e especialização médica, pois a falta desses requisitos resulta em terapias inadequadas, muitas vezes retificadas somente com intervenção cirúrgica. Já a operação pode ser necessária e benéfica em alguns casos, mas em geral não é a primeira opção de tratamento.