Foto: Alex Cavanha/PSA

Casa da Palavra vira palco do Mental Fashion Day 2019

Ao todo, 55 modelos desfilaram no evento que faz parte da programação do Mês da Luta Antimanicomial

Nem a chuva foi capaz de diminuir a animação dos modelos que desfilaram na passarela do Mental Fashion Day nesta quinta-feira (16). Com o tema “Loucura não se prende, mais amor por favor” o desfile, tradicionalmente realizado na Concha Acústica da Praça do Carmo, desta vez foi realizado na Casa da Palavra por causa do tempo fechado.

Além dos familiares e usuários dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial), houve a participação de usuários do Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro POP), Núcleo de Projetos Especiais (NUPE) e Consultório na Rua. Ao todo, 55 pessoas de todas as idades desfilaram na passarela do evento.

“Estou vendo aqui muito amor, muita alegria e muita energia positiva. Acho muito legal esse trabalho de referência que é feito por todos vocês. Esse amor e carinho é uma coisa inesquecível, não só para a pessoa que precisa, mas também para o familiar saber que o ente está sendo acolhido. Isso está acima de tudo. É importante entregar equipamento de saúde, mas temos um patrimônio maior que é o ser humano, a pessoa que precisa ser cuidada com dignidade e respeito e é isso que está sendo feito aqui agora”, comentou o vice-prefeito e superintendente da Unidade de Assuntos Institucionais e Comunitários, Luiz Zacarias.

A ansiedade dos modelos terminou assim que o evento começou. Ao som das palmas fervorosas da plateia, com muita animação e sorriso no rosto, a deficiente auditiva Fernanda Rodrigues, uma das usuárias mais antigas atendidas na rede e veterana do Mental Fashion Day, fez a abertura do evento distribuindo beijos para o público. Na mão, o tradicional lenço que a acompanha em todos os desfiles, fazia movimentos devidamente ensaiados.

“Cada dia mais o nosso compromisso tem que ser exponencial com a causa da luta antimanicomial. O que a gente vê aqui é acima de tudo respeito à dignidade humana. Unidade é importante, psiquiatra é importante e o conjunto dos profissionais é fundamental para a construção de uma política que resgata a cidadania de cada um dos modelos e frequentadores dos nossos núcleos assistenciais. É fundamental a forma com que isso está sendo trabalhado. Não podemos recuar um milímetro sequer da luta pelo fortalecimento, da inclusão e da dignidade dos nossos \’modelos\’ que aqui desfilaram. Vamos à luta”, pontuou o secretário de saúde, Márcio Chaves.

Muita emoção marcou o encerramento do evento com o desabafo de familiares, usuários e profissionais da rede que gritavam a frase “Nenhum passo atrás, manicômios nunca mais”. A ação faz parte da programação do Mês da Luta Antimanicomial e proporciona resgate de cidadania e inclusão social. Além do desfile, a ação contou com apresentação musical, intervenção artística e pintura terapêutica.

“O nosso papel aqui é que as pessoas possam enlouquecer, seja pelo que for, da melhor forma possível e que a gente possa, dentro do enlouquecimento delas, cuidar em liberdade. Que não tenhamos nenhum passo atrás seja no cuidado cotidiano, na crise ou na reabilitação psicossocial. Estive há um mês em um manicômio para o processo de desistitucionalização e lá encontrei uma pessoa que entrou com 12 anos e nunca mais saiu. Isso já faz 28 anos. Então que a gente nunca mais repita essas histórias. Eu fico muito tranquila porque eu sei que nesse momento a política desse município é que a liberdade é terapêutica e de direito”, disse a coordenadora de saúde mental, Marinês Santos de Oliveira.

Histórico – Desfile anualmente realizado no mês de maio por usuários, familiares e funcionários dos Centros de Atenção Psicossocial, o Mental Fashion Day teve origem nas oficinas terapêuticas, principalmente na oficina de costura, local onde é trabalhado o autocuidado do usuário e o seu protagonismo em construir a própria personalidade através da roupa.

Essa oficina começou a ganhar mais força e o trabalho deu tão certo que os usuários que participavam tinham grandes melhoras e isso ocasionava, muitas vezes, na alta médica. O evento é realizado no mês de maio pela simbologia da marca da luta antimanicomial, comemorada nacionalmente no dia 18 de maio, em favor do cuidado humanizado e em liberdade.