Fogão à Lenha de Minha Avó

Ala Voloshyn

Ala Voloshyn

18 de Outubro

Observando uma fogueira lembrei-me de minha avó, baba Anna. A chama robusta, sua cor, o estalar da lenha, seu cheiro característico. Tudo me trouxe de volta aquela mulher pequena na estatura, mas imensa em sua sabedoria e coração.

Lembrei-me do seu fogão à lenha e de suas panelas de ferro a cozinhar o alimento, que preparava com atenção e presteza. Minha querida baba Anna, quanta saudade! Saudade das histórias que contava para meu irmão e eu antes de dormirmos. Era expressiva e entusiasmada, sua voz era sempre suave e firme ao mesmo tempo.

Ela era ímpar. Sabia preparar boas conservas. Plantava, bordava, manejava o tear com precisão. Conhecia a natureza do dinheiro. Cantava, orava, abençoava. Soube defender a vida de seus filhos dos horrores da guerra até migrar da Ucrânia para o Brasil. Era carinhosa e ao mesmo tempo austera quando cobrava perfeição.

Incansável, dormia pouco e trabalhava muito. Sempre ao lado de meu avô, parecia que as dificuldades não a incomodavam, pois não reclamava, apenas trabalhava. Quanta saudade eu sinto da minha baba Anna!

Queria tê-la ao meu lado, ouvi-la novamente, sentir seu afeto e seu abraço. Quanta falta isso faz! Quanta falta uma verdadeira mulher faz num lar! É ela que mantém este lar aquecido e aconchegante. É ela que mantém a união. É ela que cuida da vida! É ela uma sacerdotisa a preservar o fogo que transforma e mantém a vida por todo o tempo!

Foi o fogo que me fez lembrar e aos poucos fui percebendo o quanto ela havia me influenciado com suas atitudes. Foi com ela que aprendi a gostar das flores e da terra. Foi com ela que aprendi a bordar observando-a com seus tapetes de sacos de batata. Foi com ela que aprendi a cantar, orar, lutar, abraçar. Foi com ela que aprendi como é ser uma verdadeira sacerdotisa, uma verdadeira mulher.

Minha querida baba Anna, como eu ficaria feliz ao senti-la novamente perto! Guardo sua foto, a cruz que deu para meu batismo. Guardo seu sorriso e seu brilho no olhar. Guardo-a em meu coração. Guardo-a em minha memória para que me guie nesta difícil tarefa de ser mulher. Sinto-me feliz por tê-la como um exemplo de força feminina.

O tempo passa e a consciência de sua importância em minha vida aumenta, alegrando-me a alma e despertando uma profunda vontade de ser como ela, uma sacerdotisa, uma verdadeira mulher.

Sinto-me feliz, em ter seu sangue em meu sangue, seu coração em meu coração!

Ala Voloshyn

Ala Voloshyn

Psicóloga. Escritora. Blogueira. Contadora de Histórias. Mediadora de Conversa Filosófica. Blogs: alavoloshyn, livrosvivos - SoundCloud