O personagem da semana em nossas humildes “Memórias do futebol mauaense” é, sem dúvida, um dos mais importantes nomes da história do esporte local, cuja atuação como jogador, dirigente da Liga de futebol, de alguns clubes e também como político fora marcado por controvérsias e passagens folclóricas. São muitas as estórias protagonizadas por Aparecido Sanvidotti e que hoje fazem hoje parte do imaginário popular do futebol mauaense.
Com quase 85 anos de idade, resumir o histórico de Sanvidotti não é tarefa das mais fáceis, por isso atemo-nos em sua trajetória nos campos e extracampos do futebol. Nascido em 26 de agosto de 1935 na cidade paulista de São Manoel, Aparecido Sanvidotti chegou em Mauá em 1945 e com 14 anos começou a trabalhar na Porcelana Mauá. E como qualquer criança, também adorava dar seus chutes numa bola com os amigos.
Em campo seu futebol era considerado “limitado”, mas o volante Sanvidotti afirma ter jogado por diversos times (alguns comprovados): Corinthians de Mauá, Ordem e Progresso, Palmeirinhas, Independente, Industrial, Corinthians de Santo André, Santos de Mauá, Vila Noêmia, AE Mauá, Blumoon, Cerâmica e Ferrovia. Mas seu forte mesmo era o co-mando, a direção (foi presidente da Liga Mauaense de Futebol entre os anos de 1966 a 1976, embora registros de sua atuação na entidade sejam encontrados desde 1960).
Foi justamente na Liga que Aparecido Sanvidotti protagonizou as maiores estórias do futebol mauaense, os “causos” verdadeiros e aqueles outros “nem tanto” que permearam os campos de futebol de Mauá durante mais de duas décadas. A sede da Liga era para Sanvidotti um quartel-general de onde preparava projetos políticos e mantinha com mãos de ferro o comando do futebol da cidade. O estilo “linha dura” do presidente da liga seguia um padrão da época, quando era conhecida a presença de militares no comando do futebol. O próprio Sanvidotti pertenceu aos quadros da Aeronáutica e trabalhou durante anos como Escriturário da Secretaria Estadual de Segurança Pública de São Paulo até a aposentadoria.
Solicitação do “Belfort Duarte”
Um das excentricidades de Sanvidotti foi quando solicitou à Federação Paulista de Futebol (FPF) o recebimento do prêmio “Belfort Duarte”, em 1974. Ele entrou com o pedido junto à FPF para receber o famoso prêmio alegando contabilizar a marca de 359 partidas, número que recebeu a chancela da Federação. As Informações citadas foram obtidas através de comprovação documental disponível. Sanvidotti teve a constatação das partidas confirmadas pela Federação, que deveria ter encaminhado o pedido à Confederação Brasileira de Desportos (atual CBF), encarregada de entregar a condecoração. A comprovação do pedido está no protocolo 11395, de 16 de outubro de 1974, recebido na secretaria da Federação Paulista de Futebol. Quanto ao prêmio Belfort Duarte, Sanvidotti nunca o viu.
A pancadaria em Ibiúna
Em determinada excursão do Santos de Mauá (presidido por Sanvidotti) à cidade de Ibiúna em fins dos anos 1970, para jogar amistosamente contra o Guarani local, o velho dirigente lembra que o Santos vencia fácil o time local por 3×1 até o início do segundo tempo. Em campo, tudo tranquilo, mas fora dele as torcidas quebravam o pau numa enorme briga/confusão.
Temendo consequências desfavoráveis, o juiz da partida teria iniciado uma verdadeira operação para beneficiar o time da casa. “Foram dois pênaltis, um sem número de faltas invertidas e quando o Guarani virou para 4×3, o juiz encerrou a partida faltando ainda dezessete minutos”, conta. Problema mesmo foi pra sair do estádio e depois pra sair da cidade.
Aparecido Sanvidotti foi vereador entre 1967 e 1976. Eleito em 1966 com 196 votos, ficou na 1º suplência entre os vereadores do MDB nas eleições de 1969 quando obteve 231 sufrágios. Em 1972, Sanvidotti foi o vereador mais votado, com expressivos 1702 votos. Foi Secretário da Mesa Diretora e Presidente do Legislativo no biênio 1973/74. Em 1976, após queda de braço com o então prefeito Amaury Fioravanti, Sanvidotti dá lugar à Orlando Davo frente à presidência da Liga Mauaense de Futebol.