A trajetória do personagem da semana de nossa “Memórias do futebol mauaense” pode ser confundida com a do próprio time com o qual se destacou, duas histórias que se fundem numa só: Luiz Carlos Marinho e Associação Atlética Vila Nova, da Vila Carlina (ou Sertãozinho como é conhecido o bairro do time cuja sede fica instalada em meio às fábricas diversas daquele importante polo industrial local).
Luiz Carlos Marinho, popular “Cacalo”, é mineiro nascido na cidade de Raul Soares em 06 de junho de 1966; dez anos depois, chegou a Mauá com seus familiares. Mas Cacalo não veio direto de Minas Gerais, pois cedo sua família havia se transferido de Raul Soares para Engenheiro Beltrão, no Paraná. Foi vindo de um distrito dessa cidade paranaense chamado Sertãozinho que Cacalo e família por aqui se instalaram, justamente no bairro Sertãozinho em Mauá. Coincidência?
Volante técnico e artilheiro
O palmeirense Luiz Carlos começou cedo na prática do futebol amador, tendo praticamente jogado durante sua vida toda no Vila Nova, clube cuja identidade define a história de Cacalo no amadorismo. As raras exceções foram atuações breves por Águia da Vila Magine (em 1990, quando foi campeão da Segunda Divisão mauaense), veteranos do Blumoon e no cinquentão do Parque das Américas FC.
Conforme citado, foi no Vila Nova que Cacalo construiu sua história no futebol amador de Mauá, sendo nesse time que iniciou sua trajetória ainda em princípios dos anos 1980. Sempre enquanto volante, seja com a tradicional camisa 5 ou com a 8, Luiz Carlos Marinho colecionou títulos e acessos, como o primeiro deles, em 1984, na terceira divisão. E mais, com Cacalo em campo: vice-campeão da 2° divisão em 1988, campeão da 2° divisão em 1994, campeão da 1° divisão em 1996, vice-campeão da 1°divisao em 1997, vice-campeão da 1º divisão em 1999 e 2000 e campeão da 1º divisão em 2004. Na conquista da 2º divisão de 2016 e no vice-campeonato da 1º divisão de 2017 como membro efetivo da diretoria e da comissão técnica.
Alma e pulmão da equipe: ontem e hoje
Com uma trajetória recheada de títulos, fica fácil entender porque Cacalo é história viva da equipe rubro-negra. Como o personagem participou praticamente de todos os títulos conquistados pelo time, em suas preleções nos dias de jogos consegue “transformar” o jogador dentro do vestiário. Para alguns membros da diretoria do time, “teria que fazer uma estátua pra ele, que vive, dorme, acorda, respira Vila Nova todos os dias. O máximo que o Vila Nova puder fazer por ele ainda é pouco”. Além de jogador, foi presidente, diretor, técnico, massagista, gandula, um símbolo do time e do bairro que o acolheu.
Prestes a completar 54 anos, o hoje motorista aposentado Luiz Carlos Marinho é pai e avô experiente, seja na vida ou no campo de jogo. Num desses jogos, em 2004, o então presidente/técnico Marcos Galindo, o “Marcão”, teria chamado Cacalo para ir com ele até a praia em Santos, na véspera de importante jogo do campeonato. Ambos passaram a noite literalmente em claro, na diversão; na manhã do dia seguinte, na hora do jogo, Cacalo, ele que era capitão da equipe, sequer foi relacionado e foi mandado direto pro banco de reservas, sem nenhuma explicação. “Na hora do jogo, na escalação, deu a camisa pra todo mundo e a minha 8, nada! A torcida começou a chama-lo de burro, pedindo pra ele (que olhava e dava risada) me colocar em campo. E mais uma vez, coincidentemente outro jogador (o terceiro do Vila Nova), se machucou. Ai não teve jeito, ele teve que me colocar, até porque não tinha mais ninguém no banco de reservas, eu era o último. Entrei e num lance casual, num choque com o goleiro adversário, a bola bateu no meu rosto e entrou mansamente para dentro do gol: final de jogo, Vila Nova 1×0, gol de Cacalo”, rememora.
Nesse ano de 2004, o Vila Nova conquistou seu último título na primeira divisão de Mauá, sendo o volante Cacalo artilheiro do time. Luiz Carlos Marinho sempre jogou na várzea por amor, por diversão. “Uma vez ganhei da diretoria do Vila uma chuteira Topper, número 40, mas eu calçava 39, mesmo assim eles me presentearam com aquela chuteira, a única de marca que eu usei. Hoje em dia qualquer jogadorzinho que não ganhou nada quer dinheiro, chuteira nova, para atuar. “Primeiro tem que ganhar as coisas para poder pedir”. Infelizmente, isso faz parte, mas eu ainda prefiro jogar pelo time, por amor às cores do time”. Fica a dica de Cacalo, história e referência maior do Vila Nova e da várzea de Mauá.