O personagem da semana em nossa “Memórias do Futebol mauaense” foi, conforme afirmação do próprio, “testemunha ocular do milésimo gol de Pelé, em 1969, no Maracanã”. Aliás, naquele jogo histórico entre o Santos e Vasco da Gama, onde a equipe peixeira venceu, de virada por 2 a 1, o único gol do Vasco foi de sua autoria. Trata-se de José Benetti, Zeca ou Benetti, como foi denominado nos clubes por quais passou.
Natural da cidade de Oriente (a mesma terra do goleiro pentacampeão Marcos, com o qual sua família tem distante grau de parentesco), José Benetti chegou em Mauá com sua família em 1958, quando foram morar no bairro da Matriz. Ainda garoto, deu seus primeiros chutes na bola nos campos de várzea próximos ao centro daquela pacata Mauá do final dos anos 50, tendo atuado por tradicionais times amadores da cidade antes do profissionalismo (Vila João Jorge, Floresta, EC Cerâmica e Palmeirinhas). Mas foi no Independente FC onde mais se destacou.
O início no futebol profissional
Antes de se tornar jogador profissional, José Benetti trabalhou como bancário, sem contudo, deixar de jogar suas “peladas” pelos times de empresas como Esan, Eletrocloro e outras. Numa dessas peladas, foi visto e convidado a jogar pelo Irmãos Romano de São Bernardo, que disputava naqueles anos 60 a Segunda Divisão de profissionais. Neste clube ficou entre 1965 e 1966, sendo transferido para o CA Juventus, da Mooca.
No “moleque travesso” se destacou como volante de boa técnica e uma passagem marcante quando, em 1967, fez parte de uma grande equipe formada com Cabeção; Flodoaldo, Milton Buzetto, Fernando e Lauro; Benetti e Jair Francisco; Tenesse, Antoninho, Araras e Valdir. Anos mais tarde, seu companheiro de equipe Milton Buzetto se transformaria em técnico que marcaria época no futebol paulista e brasileiro. Permaneceu no Juventus até 1969, quando foi contratado pelo Vasco da Gama (RJ); no Vasco atuou por cinco temporadas e levantou o troféu de campeão carioca de 1970.
O jogo do milésimo gol do Pelé
Pouco tempo depois de sua chegada no cruzmaltino, Benetti teve uma de suas maiores emoções na carreira quando foi escalado pelo técnico Tim para um jogo contra o Santos, válido pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Campeonato Brasileiro da época. Era o dia 19 de novembro de 1969, Maracanã lotado para ver o gol número mil de Pelé, o Rei do futebol. O Santos jogou aquela noite com Agnaldo, Carlos Alberto, Ramos Delgado, Djalma Dias (Joel Camargo) e Rildo; Clodoaldo e Lima; Manoel Maria, Edu, Pelé (Jair Bala) e Abel. O Vasco jogou com Andrada, Fidélis, Moacir, Fernando e Eberval; Bougleaux e René; Acelino (Raimundinho), Adilson, Benetti e Danilo Menezes (Silvinho). A história todos já sabem, o Pelé fez o milésimo gol dedicado “às criancinhas do Brasil”, aquela festa e tudo mais, mas quem quase estragou a festa do rei foi Benetti, que abriu o placar para o Vasco aos 17 minutos de jogo. “O pênalti que originou o milésimo gol de Pelé não aconteceu. Eu estava pertinho e vi mil vezes melhor do que o árbitro Manoel Amaro de Lima, que resolveu ficar para a história e marcar aquela penalidade inexistente”, afirmaria Zeca anos depois.
O pós-carreira
Antes de encerrar carreira em 1978, Benetti jogou pelo América (RJ), XV de Piracicaba, Velo Clube de Rio Claro (SP), São Bento, Amparo, Araçatuba e Paulista de Jundiaí, onde pendurou as chuteiras. Tornou-se professor de educação física da rede estadual e técnico de futebol, onde dirigiu os juniores do Palmeiras e depois, o Grêmio Mauaense.
José Benetti foi, sem dúvida, um dos maiores nomes do futebol mauaense em todos os tempos, sendo como atleta, professor ou treinador um personagem que sempre elevou positivamente o nome de Mauá por São Paulo e pelo Brasil. Zeca Benetti faleceu em março de 2012, deixando a esposa Meire Marques Benetti e seu filho Raul Marques Benetti, além de grande vazio na memória do desporto regional.