Espetáculo Refúgio propõe uma imersão virtual

O espetáculo Refúgio, de Alexandre Dal Farra, estava programado para fazer uma circulação pelo Estado de SP, porém os planos mudaram assim que começou a pandemia. Por conta disso, o diretor adaptou o projeto para uma imersão virtual que poderá ser vista pelo YouTube. Santo André era uma das cidades que estava na programação, agora o público da cidade e de toda região do ABC poderá conferir a peça de um outro jeito, nos dias 11 e 12 de setembro, sexta e sábado, às 20h.

Nessa iniciativa, haverá uma atividade diferente a cada dia: no primeiro será exibido o vídeo da montagem na íntegra e outro com o diretor falando do processo criativo; no segundo dia será feita uma leitura encenada seguido de um bate-papo com elenco (Marat Decartes, Fabiana Gugli, Andre Capuano, Carla Zanini e Clayton Mariano) e a direção. As atividades são gratuitas com transmissão pelo no link https://youtu.be/FdJdiAJfSkY.

Sobre o espetáculo

Na trama, nada se explica completamente. A linguagem lacunar das personagens não se deve às suas características psicológicas, mas sim a uma indefinição objetiva da própria realidade. A peça flerta com o ambiente do Cinema Noir de diretores como Alfred Hitchcock e com o Teatro do Absurdo de Samuel Beckett.

“Se existiu um teatro do pós-guerra, que tentava dar conta da experiência catastrófica da guerra, aqui é como se estivéssemos olhando para a possibilidade de um conflito iminente, como um ‘teatro pré-guerra’. O texto fala de um mundo que se acabou, de um momento histórico em que a esperança de um capitalismo com face humana caiu por terra”, comenta Dal Farra.

Para o dramaturgo, essa experiência on-line vai trazer um novo contato do público com a obra. “As pessoas vão poder ficar mais próximas do espetáculo com a leitura, comparar com o vídeo da peça, além de poder conversar sobre todas as camadas que envolvem o projeto. Refúgio se aproxima do espectador pelo suspense. Posteriormente, cai no abstrato, resulta em um desnorteamento. É uma dissolução da linguagem diante desse cenário de uma perda de comunicação. Um espelho para a situação de isolamento político (para além do isolamento literal) de isolamento que estamos passando atualmente. Na verdade a parte política dessa situação já estava bem visível em 2018, e a peça só tira consequências daquilo”.

A ideia da peça é explorar duas concepções diferentes de refúgio para discutir a desestruturação simbólica do cotidiano. “Tratamos da ambiguidade entre dois sentidos da palavra refúgio: uma opção de fuga de um lugar em que não se quer/pode ficar ou como um espaço em que se fica para fugir de uma situação. É por causa desse sentido amplo que o refúgio se dá em um ambiente aparentemente cotidiano. Não se trata de uma guerra ou algo destrutivo, mas sim de uma espécie de desagregação sutil da estrutura do próprio cotidiano”, explica o autor.