A Menina que Apagava

Menina bonita, afetuosa, inteligente, com ideias mil.
Adorava brincar, imaginar, sua arte espalhar.
Sabia desenhar, cantar, inventar histórias, proseava como convém!
Tinha muitos talentos, mas alguns defeitinhos também!
Às vezes copiava o que gostava, dizia que era sua obra e de mais ninguém.
Persuasiva, conseguia o que queria.
Fazia fama com alguma idolatria.
Tinha quem gostasse de seus feitos e não precisava mais.
No entanto mais queria, que era um pouco gulosa, essa menina admitia.
Queria mais e mais, porém só tinha dois braços, tudo não conseguia.
E logo percebeu que se adulasse quem lhe servia, podia ter o que lhe apetecia.
E assim a menina crescia, navegando
por mares em embarcações imaginárias.
Seus feitos logo alcançavam novas terras, onde mais podia.
Todos apreciavam a menina bonita e sabida.
Como cada vez mais queria, tudo fazia e conseguia.
Mas não confessava, que algumas vezes ultrapassava limites que não devia.
E como havia quem percebesse seus feitos.
Logo sentia um medo que não dominava.
Mas com inteligência rápido se acomodava.
Simplesmente apagava tudo aquilo que não gostava.
Tinha uma borracha imaginada.
E ia a menina apagar o que não queria.
Apagava palavras que lhe ferissem o ego.
Apagava feitos que mostrassem suas intenções.
E assim tudo parecia belo e perfeito.
O que a menina não sabia é que de nada adiantaria.
Não se apaga o dito.
Não se apaga o feito.
Pode ser transformado, mas não apagado.
Assim foi decretado e não pode ser mudado.
Mas a menina apagava e continuava.
E quanto mais apagava mais se cansava.
Suas forças minguavam.
Seus medos cresciam.
Medos de não ser quem desejava.
E mais ainda apagava.
Tanto apagou que sem história ficou.
Que vida sem graça!
Tanta beleza se anulou!
Bastaria ser como é, sem medo de ameaça.
Vida mentida é uma trapaça.
Não precisava mais do que tinha.
Já lhe eram suficientes os talentos que trazia.
Perfeita a menina seria, sem borracha a apagar o que não queria.
Seus talentos lhe mostrariam tudo o que poderia.
Sem pressa.
Sem gula.
Com afinco e formosura.
A vida assim cresceria em altura.

Ala Voloshyn é Psicóloga. Escritora. Blogueira. Contadora de Histórias. Palestrante.