Memórias do futebol mauaense: Carlos Firmino

Daniel Alcarria

Daniel Alcarria

5 de Março

Num período nem tão distante da história do futebol brasileiro, a condição de ‘jogador de bola’ era vista com desconfiança pela sociedade e a ideia de ser um profissional do futebol como meio de vida ainda considerada incerta e até marginalizada. Aos filhos dos trabalhadores, em sua grande maioria, a opção final era o trabalho formal (em muitos casos, informal) e não a tentativa da carreira de atleta. Em regra, as famílias optavam por encaminhar seus filhos para o trabalho em detrimento da possibilidade da fama nos gramados.

Mas nem tudo, graças a Deus, é fama ou dinheiro; a prática esportiva e social do futebol independe do profissionalismo e compõem-se de sentimentos mais nobres como amizade, companheirismo, socialização, solidariedade, compromisso e sobretudo, o prazer em jogar aquela ‘bolinha’ com os amigos pelos campos da vida em seguidos finais de semana, anos a fio. Em ambas situações apresenta-se Carlos Firmino, o craque da semana nas ‘Memórias do futebol mauaense’.

Um autêntico zagueiro de Mauá

O paulistano Carlos Firmino nasceu em dezesseis de junho de 1963, mas com cinco anos de idade já estava em Mauá. Oriundo da Vila Prudente, zona leste de São Paulo, Firmino e família por aqui se estabeleceram em 1968, criando raízes no futebol e na cidade que os acolheu. Firmino marcou (e continua marcando) época no futebol mauaense.

Seu primeiro clube na cidade foi o extinto Parque das Américas FC, o atual Santa Cruz. Nessa agremiação, o zagueiro Firmino atuou nas categorias menores, ainda no início dos anos 1970. Depois jogou por EC Cerâmica, AA Industrial, SC Blumoon, Manguassa, Ouro Verde, Juá, AMPA, Atlético Mineiro, CA Vila Vitória, SE Paulistinha, SE Beira Rio, CE União, Mocidade FC, GE Jd. Maringá, São João FC, CA Itapeva, Serrano, Santos do Santa Lídia, Independente e GE Jd. Anchieta, numa lista interminável de títulos e conquistas. Foi em várias oportunidades convocado para a seleção municipal em disputas de jogos Regionais e Abertos do Interior.

Paralelo à sua atuação nos times amadores de Mauá (Firmino também jogou por equipes de São Caetano, Santo André e Ribeirão Pires), o zagueiro Carlos Firmino teve breve passagem pelo futebol profissional, tendo vestido as camisas do EC Santo André e da Esportiva de Guaratinguetá. Aos 20 anos teve que interromper a promissora carreira para se dedicar ao trabalho.

Dentre os inúmeros times que jogou, Firmino reconhece que sua maior ligação é com o Ouro Verde, do Jardim Zaíra. No alviverde foi capitão e campeão municipal em duas oportunidades, sendo duas vezes vice-campeão. Na terra dos zagueiros que se transformou Mauá, Carlos Firmino ocupa lugar de destaque ao lado de grandes nomes do futebol mauaense, na galeria dos maiores defensores da história do futebol local.

Com categoria, um campeão em todas as categorias

O defensor Carlos Firmino teve boas inspirações para construir sua trajetória de zagueiro vencedor no futebol mauaense. Como central, Firmino mirava seu jogo nos exemplos de Luisinho (Atlético Mineiro) e Oscar (São Paulo FC), zagueiros titulares da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1982. Como todo zagueiro, sua principal tarefa era evitar gols, mas Firmino também teve seus momentos de glória no ataque, como na final da Divisão Intermediária de 1995 quando marcou o gol do título e do acesso do Juá para a primeira divisão.

O hoje comerciante e aposentado Firmino ainda bate sua ‘bolinha’ e busca uma marca no futebol mauaense: conquistar o título do sessentão após ter vencido praticamente todas as divisões e categorias em Mauá. Campeão na primeira divisão, na segunda, veterano, cinquentão e a próxima meta, o sessentão. Depois, conforme decisão do zagueiro, “encerrar a carreira com chave de ouro e acompanhar o futebol na condição de torcedor”.

Carlos Firmino teve que optar pelo trabalho para azar do profissionalismo, mas para a história do futebol amador de Mauá seu nome ocupa lugar de destaque. Sorte e alegria para os diversos clubes e jogadores que contaram com sua categoria, garra e determinação de zagueiro vencedor, que acostumou-se a erguer troféus e títulos. Em breve, mais um título e infelizmente, o último. Parabéns Firmino, eterno campeão!

Com a camisa da seleção de Mauá no Campo do Cerâmica. Sua condição técnica e liderança sempre o colocava como capitão pelas equipes que jogou durante sua longa carreira. Data: aprox. 1984. Acervo de Carlos Firmino.
Em seu querido Ouro Verde campeão mauaense de 1989, no antigo campo do Cerâmica. Firmino é o quarto, em pé, da esquerda para a direita. Em pé: Gilmar (técnico), Maninho, Mauá, Firmino, Ademir, Dida, Marquinho, Flávio, Nenê, Gilberto e Agenor. Agachados: dois garotos não identificados os nomes, Valtinho, Baiano, Marcelo, Celso, Walfang, Eder, Sandro, David e Edvaldo. Data: 1989. Acervo do Ouro Verde Futebol Clube.