A industrial cidade de Mauá que conhecemos hoje, com quase meio milhão de habitantes e expressiva quantidade de empresas, de diversos ramos e segmentos da economia e grande diversidade de empreendimentos, teve no início de sua história, na extração de pedras, uma de suas primeiras atividades laborais. Aliás, no caso das pedreiras, elas ajudaram na formação da cidade desde os primeiros anos do século passado.
Como esporte das massas trabalhadoras e populares, o futebol também floresceu no ainda Distrito de Mauá à época das grandes pedreiras locais, surgindo clubes formados pelos chamados “escarpelinos” (trabalhadores de origem italiana especializados na lida com as pedras), dentre os quais destacamos o septuagenário São João FC, o CA Itapeva e outros.
Assim como o primeiro prefeito mauaense Ennio Brancalion, que trabalhou nas pedreiras de Mauá antes de ocupar o cargo, também muitos de nossos clubes e atletas amadores surgiram a partir do trabalho nas pedreiras, exemplos de Guilherme Napoli, um dos primeiros craques mauaenses e de Ildefonso Ivo Cyrillo, o Tigrão do Juventus do Adelina.
Ildefonso Cyrillo, o Tigrão: das pedreiras para o campo de futebol
Ildefonso Ivo Cyrillo, o popular ‘Tigrão’ do Juventus do Adelina pertence a uma tradicional família de cortadores de pedra, cujos laços com o município perduram desde os tempos em que Mauá ainda era denominada Pilar e sua principal atividade econômica baseada na extração e produção de pedras e paralelepípedos. O próprio Tigrão, nascido na cidade em vinte e nove de junho de 1957, trabalhou nas pedreiras da região, assim como seus avôs, pais, tios e irmãos.
Os Cyrillo estão em Mauá desde 1914, quando Domingos Cyrillo (avô de Tigrão) chegou por aqui, vindo da Itália. Em 1920, Domingos adquiriu grande porção de terra onde instalou as primeiras pedreiras, roças e casas, o sítio “Itapera”. Seu pai, Vicente Rocco Cyrillo trabalhou durante a vida toda nas pedreiras da família e também jogou futebol, com passagens pelos times Independente FC e São João FC, sendo neste último um de seus fundadores.
Mesmo sendo de geração posterior à de seu avô Domingos, Ildefonso Cyrillo Tigrão também andou por cortar suas pedras feito seus antepassados escarpelinos; ainda menino, trabalhou na pedreira entre 1969 e 1975. Para manter a tradição familiar, jogou futebol como meia-esquerda e lateral no juvenil do Itapeva, Portuguesinha do Jardim Adelina, Corinthians do Itapeva e no Intocáveis); em 1985 parou de jogar para se dedicar ao EC Juventus, clube que fundou no bairro e através do qual vem desenvolvendo desde então um grande trabalho social com futebol, atendendo crianças e adolescentes de diversas faixas etárias. Atualmente o Juventus disputa as competições oficiais da liga de Mauá com a categorias principal, veterano, sub-17, sub-15, sub-13, sub-11 e sub-8.
Mauá, Tigrão e família Cyrillo: ontem, hoje e sempre
Tigrão nasceu em Mauá assim como seus pais e tios, primos e outros parentes; morou durante décadas na mesma casa (próxima à entrada da Gruta Santa Luzia), sempre na região do Itapeva. O terreno que abriga as atuais sede e campo do Juventus no Jardim Adelina também são parte da área que inicialmente compunha o sitio Itapera do Seu Domingos.
Aposentado, o corintiano Ildefonso Tigrão é pai de cinco filhos, avô de oito netos e bisavô de um pequeno Cyrillo. Presidente do Juventus, se orgulha em afirmar que possui experiência de futebol com “cinquenta e nove anos de beira de campo”, o que atestamos de prontidão. Sempre seguindo sua melhor tradição escarpelina familiar, Tigrão Cyrillo é a prova viva da importância histórica de seus antepassados, verdadeiros desbravadores que ajudaram a construir a Mauá que conhecemos hoje. E depois de driblar tantas pedras, paralelepípedos e rochas, continua a trabalhar para o bem estar do futebol amador de Mauá.