No mês de abril, oito funcionários de setores administrativos da FUABC (Fundação ABC) receberam a primeira dose da vacina contra a COVID19 em São Caetano do Sul sem serem do grupo prioritário por idade ou que estão na linha de frente. Aliados ao atual prefeito interino Tite Campanella (Cidadania), a entidade é hoje comandada por Adriana Berringer Stephan, que é amiga pessoal e braço direito do interino. A denúncia foi feita pela Prefeitura de Santo André que contestou o pedido para segunda dose a esses funcionários. O fura-fila da vacina em São Caetano do Sul foi matéria do jornal SPTV e mostrou os colaboradores incluídos em uma lista de 80 profissionais da saúde imunizados ligados à organização social de saúde do ABC.
Adriana Berringer foi indicada por São Caetano do Sul para assumir o cargo na FUABC, e segundo a denúncia tem relacionamentos amigáveis e bem próximos com todos os nomes incluídos na lista para vacinação, entre eles, Patrícia Veronesi, Vanessa Calipo Leandro, Magali Barbosa Gonçales, Eduardo Asêncio do Nascimento, Ana Paula Barros de Queiroz, Ana Paula Carneiro da Costa, Sandro Tavares e Rosimeire Roberta de Siqueira. Nenhum deles tem ligação com a saúde ou trabalham na linha de frente de ambulatórios médicos mantidos pela FUABC, exercendo cargos nas áreas de recursos humanos, comunicação, financeiro e jurídico.
A listagem com o pedido da segunda dose para Santo André foi realizada no dia 7 de abril, quando o reitor e infectologista do Centro Universitário da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), David Uip, encaminhou ofício à Prefeitura do município solicitando 80 doses da vacina para aplicar nos trabalhadores da linha de frente que ficam dentro dos ambulatórios da universidade, porém os nomes citados acima foram listados como médicos, quando na verdade não são e exercem funções administrativas. Os nomes relacionados nessa lista tomaram suas primeiras doses da Astrazeneca, no dia 20 de abril, em São Caetano do Sul.
A Prefeitura de Santo André, administrada por Paulo Serra (PSDB), mandou o caso para o Ministério Público e para a Polícia Civil com o objetivo de apurar se houve tentativa deliberada de desrespeito ao PNI (Programa Nacional de Imunização) com fornecimento de dados adulterados pelos colaboradores da FUABC. Já São Caetano do Sul trata o caso de maneira superficial, abrindo apenas uma sindicância interna.
A Câmara Municipal, por iniciativa do vereador César Oliva, já vem investigando contratos suspeitos da FUABC e passará a investigar também o fura-fila da vacina.
Ainda em entrevista cedida à Rede Globo, em 29 de abril, a secretária de Saúde de São Caetano, Regina Maura Zetone, confirmou apenas a apuração interna e concluindo que se são trabalhadores administrativos em hospitais, a Secretaria de Saúde tem a liberalidade de aplicação da vacina, pois são pessoas que podem se contaminar no hospital.
Diferente do que estavam relacionados os cargos na listagem, sem ligações com a saúde, a Secretaria de Saúde de São Caetano tenta contornar de forma amigável o fura-fila da vacinação para os aliados de Tite Campanella e Adriana Berringer.
Além disso, até o momento, em São Caetano do Sul, todos os movimentos para que houvesse apuração rigorosa foram derrubados por aliados da presidente dentro do colegiado, o que dá entendimento que a Secretaria da Saúde não fez nada para coibir a vacinação de fura-filas dentro de São Caetano do Sul.
Já o reitor da FMABC, Uip, confirmou em reportagem à TV Globo que não sabe se a lista foi adulterada e disse que orientou que fossem vacinados apenas profissionais da linha de frente contemplados pelo Plano Nacional de Imunização. Para Uip, a denúncia é gravíssima e será apurada até as últimas consequências.
Desde fevereiro, a Lei Estadual prevê multa de quase R$ 50 mil para quem furar a fila de vacinação, porém o valor pode chegar a quase R$ 100 mil se a pessoa imunizada indevidamente for um agente público.
Quem aplica a vacina, também poderá ser multado.