Memórias do futebol mauaense: Diógenes Villa Camargo Filho

Daniel Alcarria

Daniel Alcarria

5 de Novembro

Marcadas pelos processos de desenvolvimento, crescimento e ocupações desordenados, sobretudo a partir dos anos 1960, cujos reflexos ainda hoje são observados nas cidades brasileiras localizadas nas regiões metropolitanas como Mauá, é de conhecimento geral que tais processos resultaram no aumento significativo de contingentes populacionais numa onda migratória que transformou, no caso de nossa cidade, um pequeno lugarejo num município com quase meio milhão de habitantes.

Nessa onda migratória, a cidade recebeu de braços abertos uma grande quantidade de brasileiros advindos dos mais diversos recantos do Brasil; por aqui, esses irmãos ajudaram-nos em variados negócios, no comércio, na indústria, nas atividades laborais diversas e também no futebol. Claro que antes da migração, Mauá já era composta por grupos e famílias antigas, fixadas na cidade há tempos, caso da família de Diógenes Villa Camargo Filho.

Nos tempos das ruas de terra

Diógenes Villa Camargo Filho é mauaense legítimo. Natural da então capital nacional da porcelana fina, nasceu em 16 de maio de 1957 no mesmo endereço onde reside até os dias atuais, na Vila Emílio. Filho de Diógenes Villa Camargo e de Maria Pagano Camargo, Diógenes viveu como expectador os processos que levaram ao rápido crescimento de Mauá, pois como morador da região que outrora ficou conhecido como “tanque da Paulista” pode observar as mudanças que a cidade sofreu provocadas pelo aumento de população e ocupação de áreas antes desocupadas e/ou ocupadas pelas indústrias de louça e porcelana de Mauá.

A “Paulista” era uma fábrica de louças e possuía um enorme tanque d’água onde os antigos pescavam, andavam de barco e nadavam. Com ares interioranos, Mauá era uma cidade totalmente diferente de hoje e suas ruas, a maioria de terra batida, serviam de espaço para locomoção e no caso de Diógenes e amigos da época, como campinhos improvisados para os jogos de bola da molecada. Dioginho como era conhecido nadou no tanque da Paulista, brincou de bola nas antigas ruas de terra e começou a levar o futebol a sério ainda nos tempos da escola, para depois com o Teixeirinha, em 1972, aprender a jogar futebol no São João FC.

Diógenes atuou por dois anos no “vovô” de Mauá, passando brevemente por um time de amigos no Jardim Anchieta. Em 1975, foi convocado para a seleção municipal (onde disputou Jogos Regionais e Abertos) e conheceu o GE Jardim Maringá, donde se apresentou para o futebol mauaense. No tricolor do eixo barão, Diógenes jogou por quase seis anos, intercalando no período uma curta passagem pelo EC Cerâmica. Depois, fez história no SC Blumoon (onde foi tricampeão mauaense em 1992, 1993 e 1994).

Sua passagem pela Seleção de Mauá levou-o a atuar profissionalmente pelo Grêmio Mauaense; pioneiro, fez parte do primeiro time e do primeiro jogo profissional do município, marcando seu nome na história do futebol local. Antes do Grêmio, o ponta direita havia tentado a sorte em testes no Nacional, Santos, Corinthians e outros clubes, mas em razão do trabalho numa agência bancária, jogou apenas um ano profissionalmente, voltando para o amadorismo.

Professor, treinador e ainda jogador

Casado com Sueli Conceição Camargo, Diógenes tem uma filha (a Letícia) e é bacharel em Educação Física; foi treinador de futebol nas categorias de base do Grêmio nos 1990, seguindo depois para o futsal e o futebol feminino. Como técnico, tem a filosofia de que nasce feito, cabendo aos treinadores o aprimoramento do jogo. Como jogador, se diferenciava dos demais pela velocidade; muito rápido, estava sempre atento às falhas das defesas rivais, faro de artilheiro. Ao menor vacilo, lá estava ele para empurrar a bola pro fundo das redes, como fez no sessentão do Ouro Verde e ainda faz, vez e outra, no Juá.

Diógenes tem grandes recordações do passado de Mauá e de suas passagens pelo futebol local; das muitas histórias, a de um gol marcado com a camisa do Grêmio no campo do Cerâmica. Jogo difícil contra o Paulistano de Jundiaí pela 3º Divisão de 1982, Diógenes sai do banco de reservas para marcar o gol da vitória, num chute de primeira, na veia, dentro da área após cruzamento, que golaço!

Além dos gols e das belas jogadas, Diógenes construiu sua história no futebol de Mauá. E para além dessa trajetória, a construção de amizades que somente o futebol pode proporcionar porque, para ele e para muitos brasileiros o futebol corre em suas veias com paixão em resenhas que apenas a bola pode proporcionar.

Dentre os títulos conquistados pelo craque, está o tricampeonato do Blumoon; em destaque, o time do segundo título do azul e branco da Vila Magini. Em pé: Wilson (técnico), Claudinho, Maisena, Bocão, Carlinhos, Maringá, Lalau, Maurão, Tchugaia, Maurício, Marcão, Babuíno, Catita e Lazinho. Agachados: Peru, Diógenes, Flavinho, Didi, Celinho, Célio, Ney e Zata. Foto: Acervo de Wilson Alberto Barbosa. Data: 1993.