Evento contou com a apresentação de trabalhos que vem sendo desenvolvidos na rede municipal para o ensino de história e cultura indígena; programa Diadema de Dandara e Piatã vai promover aulas sobre a temática para todos estudantes do ensino fundamental
Cerca de 300 pessoas acompanharam na terça-feira (30), no Clube Okinawa, em Diadema, o I Seminário Indígena Resistir para Existir. A atividade é uma ação do programa Diadema de Dandara e Piatã, que vai proporcionar ensino de história e cultura africana e indígena para estudantes do ensino fundamental, em cumprimento às leis 10.639/2003 e 11.645/2008, e marca as celebrações do Agosto Indígena.
As leis 10.639/2003 e 11.645/2008 tornaram obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio do Brasil. A Prefeitura de Diadema tem convocado novos professores para a rede, a fim de se adequar à lei, e promovido formações específicas com os docentes. Promover a correta aplicação e execução das leis foi um compromisso assumido pelo prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior. O programa Diadema de Dandara e Piatã prevê uma hora aula por semana a todos os estudantes do ensino fundamental.
A secretária de Educação, Ana Lúcia Sanches, explicou que em agosto de 1994, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o dia 9 de agosto como o Dia Internacional dos Povos Indígenas, data dedicada a homenagear e reconhecer as tradições dos povos indígenas e promover a conscientização sobre a inclusão dos povos originários na sociedade, alertando sobre direitos e reafirmando as garantias previstas na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas.
“Todo mês de agosto vamos ter atividades como essa, para refletirmos sobre as nossas práticas, sobre como estamos trabalhando a questão do ensino sobre os indígenas com os nossos estudantes e como podemos fazer além de eventos como esse”, afirmou a secretária. “É um calendário fixo da rede, para troca de experiências e a cada ano vamos construir novos espaços para discutir a temática”, concluiu.
O evento contou com a apresentação de trabalhos que vem sendo desenvolvidos na rede para o ensino da história e cultura indígena. Da Emeb Annete Melchioretto, no Eldorado, a professora Patrícia Maria apresentou o projeto Semeando Respeito, que vem desenvolvendo com sua turma de 3º ano sobre o povo Yanomami. Fatores como os diferentes idiomas, as tradições, os mitos e a luta contra o garimpo, que vem dizimando o povo há anos, estão sendo discutidos com as crianças.
A Emeb Profª Fabíola de Lima Goyano, no Jardim União, apresentou um vídeo com o resumo do trabalho desenvolvido com as turmas de 4º ano sobre o povo Xavante. Pintura corporal, práticas esportivas e demais aspectos da sua cultura foram trabalhados com os estudantes. A apresentação foi feita pela professora Luciane de Oliveira Vieira. Já o professor de artes Damasio Rodrigues Simiao Reis Jorge mostrou o trabalho realizado com os estudantes do 3º ano da Emeb Dr. José Martins da Silva, no Eldorado, sobre os grafismos corporais do povo Xavante e o seu simbolismo de reconexão e reconhecimento do outro e se si.
A indígena e indigenista Iraíde Ribeiro, coordenadora pedagógica, formadora na área étnico-racial e consultora da Secretaria de Educação afirmou que os trabalhos são uma síntese do que é discutido e apresentado em suas formações. “Me emociona muito ver essa materialização aqui”, elogiou. Afro-indígena da etnia Potiguara da Barra do Jaguaribe, no Ceará, Iraíde falou sobre o marco temporal (tese jurídica que defende que as demarcações das terras indígenas só podem ser feitas considerando o território onde as aldeias estavam em 1988, o que na concepção de lideranças indígenas, contraria a Constituição e o reconhecimento dos povos originários como os primeiros habitantes dos territórios brasileiros.
“A demarcação não pode partir de uma bancada não indígena. Existe uma relação mítica, ancestral, uma mítica que conecta aos povos aos seus territórios, ao seu parente rio, ao seu parente montanha”, afirmou Iraíde. “A situação histórico-política brasileira atual apoia o desejo de privatização das terras indígenas. Nós precisamos descolonizar as nossas narrativas, as políticas e as nossas práticas”, complementou, fazendo uma conexão com as práticas pedagógicas.
O evento contou ainda com a participação de duas lideranças indígenas: Elson da Silva, da aldeia Guyrapaju, de São Bernardo, e Eliana Macena, da aldeia Paranapuã, de São Vicente. Elson explicou que seu povo ocupa uma área de 16 hectares, em São Paulo, São Bernardo e no Litoral Sul, em um total de 14 aldeias. “Reforço a fala da Iraíde sobre a importância das pessoas não indígenas reconhecerem os indígenas, as nossas áreas e nos respeitar”, afirmou. Eliana destacou que os povos guaranis são pacíficos e que estão abertos ao diálogo e que a defesa que os indígenas fazem da natureza é em benefício de todas as pessoas. “Vamos continuar dialogando para mostrar que o indígena cuida de todo o planeta.”
A secretária de Educação afirmou que este foi apenas o primeiro evento, que representa o início de uma trajetória que visa pensar nas matrizes dos aprendizados e na força e importância dos saberes ancestrais, num momento de alinhamento conceitual e de perspectivas por meio do diálogo. “Queremos fazer o melhor diálogo possível para contarmos a história de um País que não começou em 1.500 e assim vamos crescendo nossa concepção de estudos étnico-raciais”, concluiu Ana Lúcia.
Representantes dos dois povos indígenas que participaram do evento puderam vender os trabalhos artesanais, como esculturas, colares e artigos de decoração que realizam em suas aldeias. Também levaram doações de alimentos e itens de higiene que foram entregues pelas pessoas que foram assistir ao seminário. Os participantes que quiseram puderam pintar partes do corpo com os grafismos indígenas.