“Dedé foi criado no interior da Paraíba, no engenho do avô José Lins, o Bubu. A mãe tinha morrido quando o menino era pequeno e mal começava a engatinhar pelo chão de tijolo. O pai, João Rego, vivia longe. Não aparecia nunca, era como se tivesse morrido também. A avó era implicante e vivia dando bronca. Ou cochilando na cadeira de balanço. O avô era um grande senhor, importante, solene. Não perdia tempo com criança. Quem cuidava do menino eram as tias.”
Assim Ana Maria Machado conta a história deste menino, que bem cedo conheceu a dor da solidão e a falta da mãe. O livro é de uma escrita linda! Ana Maria vai aos poucos tecendo a história de Dedé, que nasceu em 1901, e através de sua trama vamos compreendendo como um escritor se constrói e quais características e vivências vão traçando seu destino. É um menino, que pela sua solidão, tem um senso de contemplação aguçado. Tem como seu espaço o engenho do avô e por isso pode observar os detalhes de toda maquinaria que compunha o lugar. Como seus avós não lhe davam atenção devida, passava horas conversando com mestres de ofício, carpinteiros, pedreiros, tanoeiros, mecânicos. Tudo queria saber, e tudo lhe contavam, a curiosidade já estava se desenvolvendo. Banhos de rio, em água fria, contrastando com intenso calor. Subidas em árvores, frutas variadas para experimentar, os deliciosos cafés da manhã mimavam seu paladar. Davam ao menino a percepção de muitas sensações. Tinha Jasmim, um carneirinho bem branquinho, que cuidava com todo zelo e carinho. Já ia aprendendo, o menino, sobre os cuidados que a vida solicita. À tardinha costumava sair, muitas vezes sozinho, para passear montado no seu carneirinho, Jasmim, e desta forma Dedé aprendia a estar consigo mesmo. Seu poder criativo crescia cada vez mais quando se imaginava um verdadeiro príncipe de histórias ou um cavaleiro andante. Para o menino não faltaram contações de histórias. De noite, muitas vezes as pessoas se reuniam em volta de uma lamparina ou fogueirinha para ouvir histórias de dar medo! E assim o menino ia aprendendo como se conta uma boa história, recheada de muitas emoções. Mas a Velha Totônha era a melhor das contadeiras, ia contando as histórias mais lindas do mundo, principalmente quando Dedé estava doente. E suas histórias embalavam o menino tristonho e solitário, que sentia falta de sua mãe. E a cada história contada, mais crescia a imaginação deste menino tão rico em suas vivências! Ele foi para a escola tardiamente e teve que ir para um colégio interno. Era humilhado, tido como incapaz e castigado pelo que se acreditava que devia. Menino sofrido esse Dedé! Mas ele cresce, se forma em Direito, começa a publicar artigos em jornais. Descobre que gosta de escrever. É reconhecido como um bom escritor. Seu primeiro livro se intitula Menino de Engenho. Ele se tornou famoso e respeitado pela sua escrita, e uma grande obra nos deixou. Esta é a história do escritor José Lins do Rego!
Ana Maria Machado, é carioca, nascida em 1941. Escritora premiada, com vasta obra literária.
As ilustrações são de Ciro Fernandes, paraibano, nascido em 1942. Ele é xilogravurista, artista plástico e ilustrador. Se desejar conhecer seu trabalho, visite sua página no Instagram @cirofernandesxilo.