Evento, que faz parte do calendário oficial da cidade, celebra a Orixá cultuada nas religiões de matriz africana e a resistência política e cultural dos povos que chegaram ao Brasil com a escravização
O MAP (Museu de Arte Popular) de Diadema, equipamento da Secretaria Municipal de Cultura, a CREPPIR (Coordenadoria Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) e a Fucabrad (Federação de Umbanda e Cultos Afro-brasileiros de Diadema), com o apoio da Prefeitura de Diadema, realizam no próximo domingo (5), no Centro Cultural Diadema, a 15ª edição do evento Águas de Iemanjá. No Candomblé, o dia consagrado à Iemanjá é 2 de fevereiro. Na Umbanda, é dia 8 de dezembro.
A ação, que faz parte do calendário oficial da cidade, celebra a Orixá cultuada nas religiões de matriz africana e a resistência política e cultural dos povos que chegaram ao Brasil com a escravização. No sincretismo religioso, resultado do período em que os cultos aos Orixás era feito de forma escondida, Iemanjá corresponde à Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Piedade, à Virgem Maria e Nossa Senhora da Conceição, dependendo da região. Nossa Senhora da Conceição é a padroeira de Diadema.
O babalorixá Jurandir de Xangô, um dos organizadores da atividade, destacou que Diadema tem uma grande quantidade de casas de matriz africana e que o evento Águas de Iemanjá é uma forma de dizer que a religião, o encanto e o próprio povo que descende das nações africanas permanecem vivos, fortes e resistindo. “Vivenciamos uma luta de resistência todos os dias contra o preconceito, a discriminação. Somos uma das únicas cidades do Grande ABCD que tem comemorações em homenagem aos Orixás”, destacou.
O líder religioso pontuou que o evento é um ato religioso, mas também cultural e de formação de identidade e comunidade. “Nossa religião também é cultura e, todos os símbolos, ritos e atos mostram isso”, afirmou. “Todo mundo que pula as sete ondas pedindo um ano melhor está pedindo as bençãos de Iemanjá, que é uma mãe, que nos protege e abençoa a todos. Iemanjá é a mãe das cabeças, de cura das cabeças”, completou.
O coordenador do MAP, José Aparecido Krichinak, pontuou que tanto o museu quanto a celebração de Águas de Iemanjá existem há 15 anos e que a ideia da festa partiu do artista plástico Ricardo Amadasi, um dos criadores do MAP. “Tínhamos à época uma artista plástica que era ligada às Casas de Candomblé, Geni Santos, e ela articulou um grande número de pessoas para a primeira edição, que sempre teve intensa participação da comunidade”, relembrou.
“Águas de Iemanjá cresceu e virou um evento para além do MAP, com uma lei de 2016 que garante a celebração do Dia de Iemanjá e é muito significativo termos essa comemoração. A trajetória da festa sempre foi de engajamento, com a participação da comunidade, da Fucabrad, muita gente envolvida”, afirmou. “É uma festa artística e cultural, em uma cidade que tem a presença muito forte da cultura afro”, completou Krichinak.
A pesquisadora do MAP, Andreia Alcantara, explicou que o objetivo do evento é expressar um posicionamento ético e político e um diálogo aberto sobre o meio ambiente pautado pelas qualidades e características de Iemanjá e as diversas manifestações culturais. “E isso se dará por meio de seminários, rodas de conversas, apresentações artísticas e exposições de pinturas e objetos tridimensionais”, detalhou. Todos os trabalhos que fazem parte da atividade serão realizados a partir de três temas: a pluralidade estética da visão mitológica originária de Iemanjá; a questão da liberdade de culto em diálogo com as políticas públicas de enfrentamento ao racismo religioso constituídas em Diadema e as questões relacionadas ao meio ambiente sob a ótica generosa de Iemanjá, além de um conjunto de obras de arte popular do acervo de Ricardo Amadasi, bem como algumas de autoria do próprio artista e das artistas plásticas Geni Santos e Mayra Santos.
Professor, mediador cultural e funcionário do MAP, Igor Stepanenko relembrou que na inauguração do MAP, em outubro de 2007, diversos líderes e integrantes de religiões de matriz africana da cidade estiveram no evento. Seguindo o rito do Candomblé, onde o primeiro Orixá saudado é sempre Exu, houve um ato de louvação à entidade e, figurativamente, foi Exu quem abriu as portas do MAP. “De comum acordo, todos decidimos abrir o ano seguinte com uma homenagem à Iemanjá, que era tema de estudo de Ricardo Amadasi. E o que era para ser apenas a abertura de uma exposição sobre a Orixá, com a presença desses mesmo líderes e seguidores das religiões de matriz africana, virou uma grande festa e nasceu ali o Águas de Iemanjá’, relatou.
A coordenadora da CREPPIR, Marcia Damaceno, afirmou que Diadema tem diversas celebrações religiosas no seu calendário oficial e que isso reforça a cultura de paz no município. “Diadema é uma mãe afetuosa, que acolhe a todos, assim como Nossa Senhora da Conceição, assim como Iemanjá, e é isso que esses eventos reforçam, que todos têm o seu espaço de culto e celebração”, concluiu.
Confira a programação do evento:
5 de fevereiro, domingo
14 horas – Tambor de Criola da Dona Teca
14h20 – Abertura da exposição Tributo à Iemanjá e aos Orixás, com obras de artistas como Ricardo Amadasi, Geni Santos e Mayra Santos, no MAP e no Espaço Cândido Portinari – visitação até 24 de março
15h15 – Discotecagem
15h30 – Roda de Iemanjá
16h30 – Show com Vanessa Reis e Batuques Lá de Casa
15 de fevereiro, quarta-feira
15 horas – Contação de história
Iemanjá, Rainha do Mar – Baseado na obra de Reginaldo Prandi – Com Angélica Taize, Bianca Vyunas e Kakau Ângela
15ª Águas de Iemanjá
Dia 5 de fevereiro, a partir das 14 horas
Dia 15 de fevereiro, 15 horas
Exposições até 24 de março
Centro Cultural Diadema
Rua Graciosa, 300, Centro