Uma questão que sempre me surpreende é como vários setores da sociedade brasileira não conseguem perceber o conflito geopolítico latente entre o Brasil e os Estados Unidos, e como os norte-americanos são inimigos naturais de qualquer processo de desenvolvimento autônomo do Brasil.
É evidente para a elite estadunidense que EUA e Brasil são os dois maiores países do continente americano, tanto em território quanto em população e força econômica. Caso o Brasil crescesse de maneira autônoma, isso inevitavelmente levaria a uma disputa de influência no continente, além de ameaçar a hegemonia política do modelo de desenvolvimento defendido pelos EUA.
Os EUA adotam uma política contínua de contenção preventiva em relação ao nosso país. Sempre que surgem iniciativas que destacam o desenvolvimento do Brasil em bases soberanas e nacionais, os EUA se aliam às forças entreguistas e antinacionais de nossa sociedade para barrar tais projetos.
O crescimento do Brasil representa uma ameaça direta à hegemonia norte-americana nas Américas. Há, portanto, um profundo potencial de conflito geopolítico nessa relação, tornando estratégico para a elite estadunidense manter o Brasil em uma posição subalterna.
Outro ponto central é o caráter dependente (de origem colonial) do capitalismo brasileiro e da classe burguesa que o sustenta, onde o desenvolvimento muitas vezes resulta em mais subdesenvolvimento. No Brasil, qualquer processo de soberania e autonomia terá um caráter socialista bem delineado, pois o capitalismo brasileiro foi projetado para ser subordinado aos centros do imperialismo, e apenas a classe trabalhadora brasileira tem interesse em romper esse modelo.
Essa percepção é compartilhada por ambos os partidos da classe dominante estadunidense. Por isso, me surpreende ver setores da esquerda, como membros do PSOL e do PT, louvando a candidatura de Kamala Harris. Além do absurdo de saudarem um quadro orgânico do imperialismo, esses setores não percebem as questões estratégicas envolvidas e que nada que venha do norte será em nosso auxílio; pelo contrário, sempre jogará contra o nosso bem-estar.
Max Marianek
Graduado em História
Funcionário Público