Pra não dizer que não falei de Olimpíadas

Fato curioso ocorre na Europa. Todos e todas sabemos que um dos temas preponderantes nos noticiários ultimamente é a questão das imigrações. Centenas ou milhares de pessoas, acossados pelas mais diversas condições, como secas devastadoras que causam fome generalizada, conflitos armados, perseguição política ou militar, buscam os países ricos, especialmente da Europa e dos Estados Unidos da América, pensando em lá encontrar melhores condições de vida. Parte das populações desses países ricos rechaçam veementemente esses imigrantes sob o argumento, principalmente, de que irão tirar os postos de trabalho das populações locais, causando a elas deterioração em suas condições de vida. Evidentemente o racismo, a xenofobia, motivações religiosas, estão presentes.

Entretanto, assistimos maravilhados às Olimpíadas de Paris. Evento maior do mundo esportivo, que congrega atletas de todo o mundo, em uma infinidade de modalidades esportivas. Ocorre que muitos desses ou dessas atletas, que mais se destacam e ficam nos primeiros lugares nas competições e que representam países mais ricos, pois lá têm melhores condições de vida, de treinamento, de desenvolvimento de sua modalidade esportiva, são migrantes que receberam nacionalização nesses países centrais do capitalismo, ou filhos de migrantes que usufruíram essas mesmas condições. Isso fica patente pela diversidade humana representada pelos atletas mais destacados nas premiações. Via de regra, não se observa manifestações violentas contra esses ou essas atletas, o que causa uma sensação de que imigrante que tem condições de destacar o país que o recebe no cenário mundial é bem recebido. Porém aquele ou aquela que procura ou tem condições comuns de vida é rechaçado.

Há de se considerar que, a rigor, a humanidade, milenarmente, é composta de imigrantes. Os estudos antropológicos atestam que a humanidade teve início em lugares centrais do que é hoje Continente Africano e dali foram se deslocando contingentes humanos para todas as latitudes e longitudes e se adaptando às condições dos locais em que se fixavam, adaptações essas que resultaram na imensa diversidade de fenótipos humanos. Estudos desses fenômenos resultaram, por exemplo, na derrubada da teoria das raças, que dizia que a humanidade se compõe de quatro raças principais: branca (sempre em primeiro lugar), amarela, vermelha e negra. Hoje sabemos que há uma única raça: a raça humana.

Esses fatos nos levam a pensar que, mais do que as características intrínsecas às pessoas, o que pesa subjetiva ou objetivamente na imputação de preconceitos, são, principalmente, fatores econômicos. Em linhas gerais, os países economicamente mais desenvolvidos e detentores das maiores riquezas se recusam a oferecer abrigo e segurança às populações pobres de outros lugares do planeta. E há ainda duas coisas a considerar: a riqueza dos países ricos se deve, em grande parte, à exploração do trabalho e dos recursos naturais dos países que dominaram/dominam colonialmente; e que, em momentos em que por degradação do solo, doenças, guerras, populações dos hoje países ricos se deslocaram mundo a fora em busca de melhores condições de vida, ali foram recebidos e compõe a diversidade nos locais onde se fixaram.

Interessante colocar essas reflexões no ambiente das Olimpíadas, ou seja, no ambiente do ponto mais elevado da competitividade esportiva. Competitividade essa contra a qual nada há que se reparar em ficando no âmbito esportivo, pois inclusive eleva as qualidades humanas, apontando do que o ser humano é capaz. Porém, cruzando com a competitividade econômica, com o capitalismo, com a exploração do ser humano pelo ser humano, revela quão distante estamos de uma humanidade justa e equânime em condições de vida, rica em fraternidade e sororidade e em solidariedade.

Viva os e as atletas olímpicos, que, além dos espetáculos que nos dão a oportunidade de assistir, deixam ver claramente as disparidades econômicas e permitem esse tipo de reflexão.

Prof. Luiz Eduardo Prates