Descrédito na política

Inegavelmente existe um sentimento generalizado de descrédito e desalento em relação à política e aos políticos na população. Não obstante, estamos em meio a uma campanha política, para eleição de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Por isso, refletir sobre esse descrédito se impõe.

Primeiramente temos que a vida política no Brasil foi moldada, desde a Colônia, passando pelo Império e chegando à República e aos dias de hoje, em uma espécie de patrimonialismo, em que não se distingue claramente o que é público e o que é privado. Mais ainda, em que se tolerou largamente a ideia de que os políticos estão para se beneficiar privadamente do que é público. As classes altas, que tinham acesso aos cargos políticos, faziam essa mistura e tudo era considerado normal. Em alguma medida isso continua até hoje. Essa é uma das raízes perversas de nossa nacionalidade. O mais triste é que, apesar de avanços, ainda hoje pessoas com pretensões políticas e mesmo a população em geral não estranham essas atitudes. Daí à desqualificação de todo político como mau-caráter, corrupto, etc..

Outro fator, que dificilmente é compreendido e assimilado pela população, porque escamoteado de diversas formas e por meios os mais diversos, como a mídia hegemônica, é que o ambiente político é o palco de disputa dos mais altos interesses. Não é somente dos interesses pessoais de quem quer que seja, mas do interesse das grandes empresas, corporações multinacionais e grande capital, em dominar a sociedade por meio de leis e destinações orçamentárias. Aí é que se faz o jogo pesado de corromper pessoas, pagando altas propinas, para votarem em tal ou qual proposta, para vetarem tal ou qual proposta. Esse é o meio que o grande capital usa para manter o seu poder e para sempre acumular mais em detrimento às necessidades da população como acesso à moradia, à educação de qualidade ou ao atendimento à saúde. Mas isso não é dito e, para muitos, tudo cai na conta de políticos individuais corruptos, em busca de seus interesses particulares.

Por isso mesmo, a desqualificação dos políticos e da política serve aos interesses das classes dominantes, do grande capital, porque é uma forma de esconder da população quem realmente manobra as decisões políticas e assim mantém a sociedade como ela está, com toda a infame concentração de rendas e de riquezas em aproximadamente 1% da população, enquanto de 50 a 60% da população vive na pobreza, miséria ou à beira dela. Digamos claramente, a desqualificação da política e dos políticos serve à direita e à extrema direita e a seus partidos e representantes.

Soma-se a esses fatores, a decepção da população com os partidos de esquerda quando chegam a cargos de governo. São eleitos com a esperança de que algo mude, favorecendo a classe trabalhadora e os setores mais pobres da sociedade. Mas infelizmente, muitas vezes essas esperanças são frustradas. Dessa frustração se alimenta também a direita, brandindo soluções fáceis à população e elegendo os seus, mas essas soluções nunca chegam. Não nos iludamos: uma coisa é chegar ao governo, outra coisa é chegar ao poder. Governos de esquerda tentam, por diversas formas, políticas públicas que cheguem à população como solução ou alívio às penúrias em que vivem, mas têm pouco êxito porque na verdade não têm o poder de implementar soluções. Uma coisa é vontade política, outra coisa é o poder financeiro para fazer valer essa vontade. Às vezes até conseguem avanços, mas dificilmente soluções efetivas e definitivas. Isso sem falar que a sociedade está toda formatada pelo capitalismo internacional para que soluções sejam pensadas somente dentro do quadro do neoliberalismo atual. Até se pode pensar fora dessa casinha. Mas há poder de implementação? Aí cresce o desânimo e a desconfiança da população e a sensação de que políticos são todos farinha do mesmo saco.

O que resta, diante das eleições que se aproximam? Resta saber que, gostemos ou não, fora da política não há solução. Resta a necessidade de termos clareza de que no ambiente político estão em disputa os interesses dos capitalistas e das grandes corporações contra os interesses da imensa maioria da população. Resta saber, ou procurar saber, quem representa quem. Há políticos honestos e sérios em todas as agremiações. Mas isso não deve ofuscar o fato de que representam interesses. E há muitos políticos picaretas. É necessário distinguir. Ao povo só há uma saída, que é procurar identificar quem realmente o representa. E formar maiorias que consigam impor políticas públicas que de fato beneficiem a maioria da população.

Ainda assim, convivemos sob o fantasma do golpe. 1964, 2016… Mas esse já é outro e triste assunto.

Prof. Luiz Eduardo Prates