Em artigo recente publicado no site Uol, logo após as eleições nos Estados Unidos, o jornalista Jamil Chad, que faz coberturas internacionais para aquele veículo, disse que a eleição de Donald Trump como presidente daquele país oportunizava a ele anistiar os envolvidos na tentativa de ocupação do Capitólio, em 06 de janeiro de 2021. Em contra-partida, disse, nós temos no Brasil a oportunidade de demonstrar ao mundo como se salva uma democracia. O ponto central de sua argumentação é que estão dadas a nós as condições de negarmos a anistia ao ex-presidente Bolsonaro e a todos os envolvidos em atos criminosos em seu governo, como também aos envolvidos na tentativa de golpe em 08 de janeiro de 2023. Para isso, diz Chad, precisamos verdade, memória e justiça, para que não se repitam, nem como tragédia, nem como farsa, numa alusão à expressão de Marx em O 18 de brumário de Luís Bonaparte (que aliás, não é citada no artigo).
Mal sabia Jamil Chad que seu artigo poderia ser considerado premonitório em vista das revelações da chamada Operação Punhal Verde-Amarelo, fruto da investigação consistente e meticulosa da Polícia Federal. Entre outras coisas, esse plano previa que, para instaurar o projeto de golpe no país, seriam assassinados o presidente Lula, o vice-presidente Alckmin e o juiz do STF Alexandre de Moraes.
Estamos na semana do dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada pela ONU em 10 de dezembro de 1948. Diante desse documento e desse dia, precisamos proclamar, como foi convocada a população para manifestações em todo o país, “Sem Anistia!” para os golpistas e para todas as pessoas envolvidas na tentativa do golpe. Mas também para todos e todas envolvidas nas mais de setecentas mil vítimas da pandemia da Covid 19, das quais vários cientistas disseram, uma parte considerável das centenas de mortes poderia ter sido evitadas. Como também de muitos outros atos atentatórios à vida perpetrados por aquele governo, como o empobrecimento da população que levou o Brasil de volta ao mapa da fome, as providências para a “passada da boiada”, como liberação da mineração, da derrubada e queima da floresta e a consequente vitimização das populações indígenas e ribeirinhas na Amazônia e em outros biomas, e de tantos outros atos criminosos.
Para isso, como muito bem diz Chad, precisamos da verdade. Precisamos que todas as tramas urdidas nos porões daquele governo e outras, nem tão escamoteadas da população, venham à tona, para a identificação e punição de todas as pessoas culpadas.
Precisamos da memória. Lembrarmos e darmos o devido peso a tudo o que aconteceu. Memória essa, parafraseando o cacique Ailton Krenak, passada e futura. Para que não se repita.
Precisamos da justiça. Punição exemplar a todos e todas envolvidos, para tentarmos extirpar de vez de nosso país a sanha golpista que se repete de tempos em tempos, algumas vezes fracassadas, mas algumas vezes exitosas.
O Brasil só salvará a sua democracia se essas providências forem efetivadas. Não aos golpistas! Não ao deboche das instituições democráticas! Sem anistia!
Prof. Luiz Eduardo Prates
luizprts@htmail.com