Xô! Adeus!

No dia 31 de dezembro São Bernardo do Campo deu adeus a seu prefeito, eleito duas vezes na onda antipetista causada pela criminosa operação Lava Jato e pela falaciosa cobertura da Rede Globo.

Para quem ele governou? Para a população branca de classe média e alta e para ele mesmo e sua família. Evidencia isso o fato que no dia consagrado à consciência negra, em anos subsequentes, o paço municipal teve como eventos comemorativos uma festa alemã e uma festa japonesa, como também o permanente incentivo à cultura italiana, inclusive com a instituição do italiano como a segunda língua nas escolas municipais. Em tempos de crescimento da extrema direita, cabe a pergunta: alguma referência ideológica ao eixo?

Nada contra governar para esse segmento. Porém há também toda uma população resultante da miscigenação de pessoas negras, indígenas e nordestinas, população local e migrantes de muitos lugares, que vive as agruras próprias do descaso a que são submetidas e em situações precárias nas periferias. Muitas delas, por ingenuidade ou engano, votaram contra si mesmas.

Ou seja, mesmo tendo sido eleito pela maioria, governou para alguns. O que confirma e dá plena razão à denúncia de racismo institucional movida em processo junto ao Ministério Público, à OEA, à ONU e a outros organismos internacionais. Aliás o único prefeito brasileiro a enfrentar esse tipo de processo.

Muitos fatos fundamentam essa denúncia. A inviabilização do ensino referente à Lei 10. 639, que instituiu o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas do país, bem como a retirada das aulas de capoeira e de percussão, das escolas municipais. A derrubada de moradias na periferia sob a alegação de estarem em áreas de risco, sem dar destinação adequada aos moradores. A demolição de casa de religião africana. O fechamento da Casa do Hip Hop, de bibliotecas públicas e da Gibiteca municipal. O encerramento das atividades da Fundação Criança. A perseguição à Batalha da Matrix e a tentativa de fechamento do Projeto Meninos e Meninas de Rua, que serve, não aos filhos da classe média e da burguesia, mas aos filhos da pobreza, que têm endereço e cor.

Esse mesmo senhor, agora, será o Secretário de Segurança Urbana da Prefeitura de São Paulo. A população de origem nordestina, preta e pobre já tem uma amostra do que poderá esperar.
Resta a esperança que ventos melhores soprem em relação à nova administração pública na cidade.

Professor Luiz Eduardo Prates