A tentação do autoritarismo (2)

A tentação do autoritarismo é permanente no Brasil. De tentativas de golpes e de instauração de regimes de força, nossa história está repleta. No período mais recente, a de 1964 foi a exitosa. E mergulhou o país nos chamados anos de chumbo, com perseguição aos opositores do regime, prisões arbitrárias, torturas, mortes e desaparecimentos.

O objetivo das tentativas de golpe e desse que se efetivou era manter no país a infame concentração de riquezas e de terras nas mãos da elite, que perdura até hoje. E um regime democrático representa perigo para seus interesses. Em relação a 1964, o pretexto foi as reformas de base, proclamadas pelo Presidente João Goulart. Dentre elas, reforma agrária, educacional, tributária, administrativa e urbana e o controle das remessas de lucros ao exterior. O mote usado pelos meios de comunicação para infundir medo na população e atraí-la para o golpe foi o comunismo.

É verdade que estávamos em plena guerra fria. Mas não havia ligação entre as reformas de base e o regime soviético. Apenas se acenava para um desenvolvimento mais autônomo do país e para maior justiça social. Mas o ímpeto autoritário, de instituir um regime de força e de manutenção armada da ordem atraiu a maioria da população.

Instaurado o regime democrático em 1985, a tentação do autoritarismo manteve-se no substrato de parte da população e de parte das forças armadas. Por fim, após o golpe na Presidenta Dilma, a prisão ilegal de Lula da Silva e a vitória da extrema direita, com Jair Bolsonaro, a sanha autoritária se manifestou nas articulações para um golpe de Estado, que incluíam a morte do presidente eleito, seu vice e um ministro do Supremo Tribunal. Urdidura essa que veio à tona nos lamentáveis acontecimentos de 08 de janeiro de 2023.

O recebimento da denúncia da Procuradoria Geral da República pelo Supremo Tribunal Federal, ocorrido nesta semana, que tornou réu o ex-Presidente Bolsonaro, militares de alta patente e a alta cúpula civil do governo anterior, representa uma esperança de que finalmente tenhamos instituições sólidas e que a população compreenda e acate a democracia como a melhor forma de gerir o país e nossas vidas.

Entretanto devemos permanecer atentos porque, ao que tudo indica, a tentação do autoritarismo se mantém viva. Mesmo disfarçada em nossa democracia capenga.

REGISTRO: Neste mês completou-se um ano de publicação de meus artigos neste jornal. Meus agradecimentos ao editor e a todo o público leitor.

Professos Luiz Eduardo Prates
luizprts@hotmail.com