Na última semana, o mundo foi abalado pelos anúncios de Donald Trump sobre a imposição de tarifas comerciais a produtos exportados para os EUA – medidas que atingem praticamente todos os países.
Independentemente das negociações específicas ou das retaliações que possam surgir, o cerne da estratégia de Trump parece ser a reindustrialização dos Estados Unidos. Isso nos leva a refletir sobre um aspecto crucial desse debate.
Tanto os EUA quanto outros países centrais do capitalismo global passaram por um processo relativo de desindustrialização nas últimas décadas. O capital industrial perdeu espaço para a financeirização da economia, especialmente a partir dos anos 1970, com intensificação nos anos 1980 e 1990.
Nesse período, proliferaram teorias – especialmente nos EUA e Europa – sobre o fim do trabalho produtivo, a sociedade da informação e a era pós-industrial. Segundo essas visões, a indústria teria se tornado um “item de museu”, substituída por serviços.
O cenário atual, porém, revela que esse modelo foi, em grande parte, uma ilusão. A China, que não aderiu a esse discurso (além de adotar outras políticas estratégicas), hoje emerge como potência ascendente, justamente por manter a industrialização como eixo de seu desenvolvimento. Agora, os EUA, em um movimento quase desesperado, tentam reverter sua decadência industrial.
Trump busca proteger o mercado interno norte-americano, reservando-o para indústrias locais, e espera negociar com outros países, para conseguir desvalorizar o dólar, recuperando a competitividade da economia norte-americana. No entanto, as tarifas são apenas um elemento de uma política industrial – sem outras medidas fundamentais, podem se tornar insuficientes.
A lição que fica é clara: a indústria permanece central para o desenvolvimento. Enquanto os chineses avançaram por não abandoná-la, os EUA correm para recuperar o tempo perdido.
E o Brasil? Estamos discutindo seriamente industrialização e desenvolvimento técnico-científico ou nos contentamos com recordes anuais de exportação de soja?
Max Marianek
Graduado em História
Funcionário Público