Quando faltam palavras

Sento à frente do computador e cadê as palavras? 21 de abril e não encontro palavras. Apenas uma frase martela em minha cabeça: Papa Francisco morreu. Cadê as palavras?

Não que faltem pensamentos. Não que faltem ideias. Ele era o líder de uma das denominações cristãs mais importantes do mundo, a Igreja Católica Romana. Cerca de 17,7% da população mundial é católica. Uma liderança incontestável, embora muitos no mundo católico não o aceitassem. Mas era muito mais que um líder católico. Muito mais que um líder religioso. Era uma das vozes mais lúcidas e mais contundentes contra as maiores mazelas da humanidade.

Sem temer, ergueu a voz contra o sistema imperante no mundo que causa acúmulo imensurável de riquezas em um percentual pequeno da população, enquanto do outro lado lança bilhões de pessoas na pobreza, na miséria, na indigência. E aproximou-se efetivamente dos pobres, do que há inúmeros exemplos.

Proclamou o valor de todas as pessoas e acolheu-as, independentemente de sua condição ou inclinação sexual; de cor da pele; econômica; cultural; religiosa. Autorizou sacerdotes a perdoarem mulheres que fizeram aborto. Pediu que os divorciados não fossem tratados como excomungados.

Posicionou-se ao lado dos imigrantes, em uma sociedade que primeiro explora populações mundo a fora saqueando recursos naturais de seus países e o trabalho de seu povo e deixando sem condições de vida milhões de pessoas ao ponto de terem que buscar outras nações para viver. E depois os hostilizam, tratam como indigentes e os expulsam.

Posicionou-se inabalavelmente em favor da paz. Proclamou e praticou o respeito a todas as religiões.

Denunciou que o capitalismo atual está levando o ambiente natural à catástrofe, ao ponto de colocar em risco o futuro da humanidade. E isso causado pela ganância de lucro de corporações e do benefício de uma pequena parcela da população mundial.

Enfim, abraçou as causas mais cruciais para a dignidade humana e para o futuro do planeta. E viveu tudo isso com leveza e alegria, recebendo e respeitando tanto adeptos como contrários, em um exemplo de humildade e busca de diálogo.

Não foi apenas um líder religioso. Foi um líder mundial. E sua voz e presença, ainda que continuem porque seu legado permanecerá sempre, fará muita falta.

Muitos pensamentos. Muitas coisas ditas e por dizer. Mas, o que são essas palavras diante de tão profunda e sentida ausência?

Papa Francisco morreu. O que dizer? Como dizer? Continuo sem palavras.

Professor Luiz Eduardo Prates
luizprts@hotmail.com